Lisboa,

quinta-feira, junho 02, 2005

gostar e amar

Existe uma enorme diferença entre gostar e amar. Gostar não representa nenhum compromisso, amar é compromisso. Por isso as pessoas não falam muito sobre o amor. De facto, as pessoas começaram a falar de amor em contextos que dispensavam o compromisso. Por exemplo, alguém diz: "Amo gelado." Mas como é possível amar um gelado? Você pode gostar, mas não pode amar. Ou outra pessoa diz: "Amo o meu cão, amo o meu carro, amo isto e aquilo."
De facto, as pessoas têm muito, muito medo de dizer a alguém "Amo-te".
Já ouvi dizer: Um homem namorava uma mulher já há alguns meses. E a mulher, obviamente, esperava, esperava - já faziam amor, mas o homem ainda não lhe tinha dito "Amo-te".
Veja a diferença - antigamente as pessoas costumavam "amar-se". Agora "fazem amor". Vê a diferença? Amar-se é estar esmagado pelo amor; é passivo. Fazer amor é quase profano; quase destrói a sua beleza. É activo, como se você estivesse a fazer algo; você está a manipular e a controlar. Hoje as pessoas modificaram a sua linguagem - em vez de usarem "amar-se" usam "fazer amor".
E o homem fazia amor com a mulher, mas nunca lhe dissera uma única vez "Amo-te". E a mulher esperava, esperava, esperava.
Um dia, ele telefonou-lhe e disse-lhe: "Estive a pensar e achei que devia dizer-te. Parece-me que agora chegou o momento. Tenho de te dizer: agora não me posso conter mais." E a mulher ficou arrebatada e manteve-se atenta - pois foi por isto que ela tanto esperara. E ela respondeu: "Diz! Diz!" E o homem disse: "Tenho de te dizer, agora já não posso mais conter-me: Gosto de ti."
As pessoas dizem umas às outras "Gosto de ti". Porque não dizem "Amo-te"? Porque o amor é compromisso, envolvimento, risco, responsabilidade. Gostar é momentâneo - eu posso gostar de si agora e posso não gostar amanhã; não apresenta qualquer risco. Quando diz a alguém "Amo-te", você assume um risco. Você está a dizer: "Amo-te, amar-te-ei sempre, amar-te-ei amanhã. Podes contar comigo, é uma promessa."
O amor é uma promessa, gostar não tem nada a ver com qualquer promessa. Quando diz a um homem "Gosto de ti", diz algo acerca de si , não acerca do homem. Você diz: "Eu sou assim, eu gosto de ti. Eu também gosto de gelado e gosto do meu carro. Do mesmo modo, gosto de ti." Você está a dizer algo acerca de si.
Quando diz a alguém "Eu amo-te" está a dizer algo acerca dela e não acerca de si. Você está a dizer "És encantadora". A seta aponta para o outro. E então há perigo - você está a fazer uma promessa. O amor tem uma qualidade de promessa associada, compromisso e envolvimento. E o amor tem algo de eternidade em si. Gostar é momentâneo; gostar não apresenta riscos, nem responsabilidades.

Gostar e amar são diferentes mas não existe diferença entre o amor comum e o amor espiritual. O amor é espiritual. Nunca encontrei amor comum: comum é gostar. O amor nunca é comum - não pode ser, é intrinsecamente extraordinário. Não é deste mundo.
Quando diz a uma mulher ou a um homem "Amo-te" está simplesmente a dizer "Eu não posso ser enganado pelo teu corpo, eu vi-te. O teu corpo pode envelhecer, mas eu vi o teu eu incorpóreo. Eu vi o teu âmago, o teu núcleo que é divino". Gostar é superficial. O amor penetra e alcança o verdadeiro núcleo da pessoa, toca a verdadeira alma do indivíduo.
Nenhum amor é comum. O amor não pode ser comum, de outro modo não é amor. Designar o amor como comum é não entender todo o fenómeno de amar. Esta a diferença entre gostar e amar: gostar é material, amar é espiritual.

(Osho in "Amor, Liberdade e Solidão)

21 Comentários:

At junho 02, 2005 12:49 da manhã, Blogger mdm diz...

Esmagador!
Que bom o ter lido hoje.

 
At junho 02, 2005 1:28 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

Este texto deixou-me os olhos brilhantes pela humidade... Amar é querer o outro, incondicionalmente. É querer acordar com ele ao lado para sempre. Beijo grande.

 
At junho 02, 2005 9:33 da manhã, Blogger trintapermanente diz...

acho que as pessoas utilizam a expressão gostar em vez de amar, mesmo amando. é uma questão de nomenclatura.

 
At junho 02, 2005 10:58 da manhã, Blogger Esther diz...

olá, Amaral! Como sempre, muito bom voltar aquí!Apareça!

 
At junho 02, 2005 11:14 da manhã, Blogger sofialisboa diz...

não há muito tempo dei por mim a dizer que tinha saudades de amar...e só de dizer esta palavra, as pessoas quase que tem medo de mim ou será que tem medo de amar, ou mesmo sabem o que é amar? pois eu sei e amei amar...tenho saudades sim, embora amo também.
sofialisboa

 
At junho 02, 2005 11:15 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

Lindo o teu texto. Lindo e expressivo, em todo o significado, doq que quer dizer o amor...

Infelizmente, a palavra amor passou a ser banalizada...

Adorei ler-te.

Um abraço :-)

 
At junho 02, 2005 12:02 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Muito Bom! AMEI!;-)

 
At junho 02, 2005 2:31 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Sim, também estou de acordo. A palavra amor está banalizada. Gostar e amar são termos diferentes, apesar de se confundirem por vezes. Este é um texto para ser lido com muita atenção.

 
At junho 02, 2005 3:20 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Sem dúvida que a palavra "amo" é usado muitas vezes no seu sentido menos nobre e por isso se encontre neste mesmo sentido banalizada!
Mas no verdadeiro sentido da palavra, ele não é usado tantas vezes como deveria ser, as pessoas preferem dizer, como diz o texto, "gosto de ti" ou "adoro-te"! Para mim isto acontece por medo... Medo de sentir este belo sentimento e não ser correspondido!
Sem dúvida um belo texto!

 
At junho 02, 2005 4:07 da tarde, Blogger elisa diz...

De facto, o amor é para mim todo o contrário do efémero, do momentâneo. Quando vem, é para ficar. Poderá ele em seguida assumir várias formas mas nunca desiste, nunca foge.
Obrigado por mo lembrares!
Beijinhos e um sorriso:)

 
At junho 02, 2005 5:37 da tarde, Blogger Unknown diz...

Amigo eu acredito que a maioria não sabe o que é amar, mesmo aquelas que dizem que amam a maior parte das vezes não chega a ser amor, ou é uma forte atração ou então é paixão que se esvai como o fumo no vento, a palavra amar em uso n/ tem a ver com o sentimento que nós lhe atribuimos, coisas de nova geração. Um abraço

 
At junho 02, 2005 7:17 da tarde, Blogger anapaula diz...

Adorei o texto. Expressa precisamente o que penso sobre a dicotomia amar x gostar. É isto mesmo.
obrigado por teres partilhado este texto. É sem dúvida algo que vou guardar no meu "bauzinho" das memórias.

Beijocas

 
At junho 02, 2005 10:21 da tarde, Blogger BlueShell diz...

Ó Amaral....tu nem imaginas como "tocaste no ponto"...
Tudo quanto dizes...é o que eu penso...
às vezes pergunto:
- " Amas-me?"
E a resposta é:
- " sabes que sim"...
E eu me questiono: Então por que diabo não mo diz, canecos??? às vezes preciso tanto, mas tanto...

em vez disso...o silêncio...e depois, a minha solidão...o meu duvidar do seu amor...o sentir-lhe a ausência estando ambos tão perto, entendes?
Eu amo-o!...ele? Não sei...não mo diz...

Muito obrigada pela visita. Beijo ternurento,
BShell

 
At junho 02, 2005 11:37 da tarde, Blogger DaJe diz...

"O amor é uma promessa"...
Realmente muitas pessoas preferem dizer que gostam para não acarretarem os "compromissos" que advêm do pronunciamento dessas palavras, mas também as há que dizem que amam, quando só gostam. (a tal banalidade). Estas últimas geralmente fazem crer que o amor eterno dura 3 meses...

 
At junho 03, 2005 6:43 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

OSHO, evidentemente. Amara é ganhar perdendo. De outro modo não existirá amor.
António

 
At junho 04, 2005 10:12 da tarde, Blogger Leonor diz...

Concordo plenamente, embora confesse que nunca tinha pensado na diferença entre estes dois conceitos. Mas já agora... não explicaste qual era o risco do compromisso de amar...

 
At junho 05, 2005 12:27 da tarde, Blogger Amaral diz...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At junho 05, 2005 12:32 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

AMAR É DIVINO!
Por isso mesmo:
AMO-TE!

 
At junho 05, 2005 1:23 da tarde, Blogger soperia diz...

ontem p acaso falaram-me desse livro. quantas vezes amamos na vida afinal?

poucas muito poucas

 
At junho 06, 2005 11:45 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

A vida ensinou-me que muitas vezes acontece termos que sofrer pela felicidade de quem amamos...
Afinal a nossa liberdade termina onde começa a dos outros..., muitas vezes é difícil vermos essa linha tão ténue que separa o fim e o início da liberdade de cada uma das pessoas que nos rodeia...
Aprendi que devemos dizer hoje aquilo que sentimos em relação às pessoas que nos rodeiam, porque o tempo corre contra nós, o tempo é muito precioso e já não volta atrás, e amanhã poderei já não ter oportunidade de o fazer e é importante dar a conhecer a quem estimamos o seu enorme valor em nossas vidas...
Nadir

 
At janeiro 27, 2007 1:04 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Very cool design! Useful information. Go on!
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