Lisboa,

quarta-feira, setembro 07, 2005

quem não merecia

Onze dias passaram,
e nem uma palavra me enviaste!
Rumaste sem aviso,
com a bagagem cheia de ideias,
de propósitos, de decisões,
cimentadas com os teus
quês e porquês.
Sem aviso,
brandiste a espada
e foste decepar o sonho.
Sem apelo, sem dó,
sem a dúvida por detrás,
sem ouvidos ao lamento.

Da fúria do gesto respinga
o sangue de quem ama.
Espanta-se a pureza das amizades
de gentes que não mereciam.
Espanta-se a dor de quem escancarou a alma
e se entregou sem limite.
Espanta-se a memória de quem já partiu,
inconsolável pela perda d'algo
que defendeu como ninguém.

Partiste célere para destruir
o sonho!
Assim, no silêncio do poder,
reservaste para ti
o gesto e o porquê.

Onze dias sem o sonho,
no vazio da perda
do mais precioso.

Não se foi ouro nem prata.
Foi-se a alegria de estar.


(Amaral Nascimento)