Lisboa,

domingo, novembro 13, 2005

o Bem e o Mal - 2


"Se, na infância, o seu herói era Estaline, não terá a mesma percepção do mundo que se o seu herói tivesse sido Joana d'Arc. Se é protestante, a sua vida não teria sido, durante a perseguição dos Huguenotes, igual à que tem num subúrbio americano dos nossos dias. Pense numa pessoa como um edifício com centenas de linhas eléctricas que lhe trazem inúmeras mensagens e fornecem energia a uma enorme quantidade de projectos diferentes. Olhando para o edifício, vê-o como uma coisa, um simples objecto que ali se encontra. Mas a vida interior do edifício depende de centenas de sinais que chegam a ele.
E a sua também.
Tanto intrínseca como extrinsecamente, nenhuma das forças que nos penetra é má. Mas, usando este menu de influências, cada pessoa faz escolhas. Penso que qualquer inclinação malévola se reduz a uma escolha feita na consciência. E essas escolhas pareciam boas, quando foram feitas. Este é o paradoxo central por detrás dos actos malévolos porque, salvo raras excepções, as pessoas que praticam o Mal podem reconduzir os seus actos a decisões que eram as melhores que podiam tomar, atendendo à situação. As crianças que são vítimas de violência, por exemplo, acabam frequentemente, quando adultos, a sujeitar a violência os seus próprios filhos. Poderíamos pensar que seriam as últimas pessoas a recorrer à violência familiar, uma vez que foram vítimas dela. Mas, na sua mente, não estão presentes outras opções, não violentas. O contexto da violência, que age nas suas mentes desde a primeira infância, é demasiado poderoso e submete a liberdade de escolha.
Pessoas que se encontrem em diferentes estados de consciência não partilharão a mesma definição de Bem e de Mal. Um exemplo de primeira qualidade é a escravização das mulheres no mundo, que parece completamente errada no mundo moderno mas, em muitos países, é alimentada pela tradição, a sanção religiosa, os valores sociais e as práticas familiares, que datam de há muitos séculos. Até muito recentemente, as próprias vítimas dessas forças viam como "bom" o papel da mulher indefesa, obediente e infantil.
O Mal depende totalmente do nível de consciência de cada um.
Se acordar, um dia, e descobrir de súbito que odeia alguém, que só poderá sair dessa situação por meio da violência, que o amor não é opção, analise quão subtilmente chegou a essa posição. Foi preciso todo um mundo para o atirar, ou a qualquer outra pessoa, para os braços do que classificamos como Bem ou Mal. Tendo interiorizado essas forças, o leitor reflecte o mundo tal como o mundo o reflecte a si.
Todavia, o Mal não pode ser seu inimigo, se o mundo está dentro de si; só pode ser mais um aspecto de si. Todos os aspectos do Eu são dignos de amor e compaixão. Todos os aspectos são necessários à vida e nenhum é excluído ou banido para a escuridão. à primeira vista, esta visão pode parecer ainda mais ingénua do que a passividade de Gandhi, porque parece que se nos está a pedir que amemos e compreendamos um assassino como amamos e compreendemos um santo. Jesus ensinou precisamente a mesma doutrina. Mas transpôr o amor e a compaixão para situações difíceis tem sido o cerne do grande falhanço da espiritualidade: a violência faz que o amor se decomponha, transformando-o em medo e ódio. Mas o Mal não faz realmente isto. São as forças que dão forma à consciência que o fazem. É aqui que o Bem e o Mal se tornam iguais.

(Deepak Chopra in "O livro dos segredos")
(imagem retirada de http://desenhosdoartemis.planetaclix.pt/)

7 Comentários:

At novembro 13, 2005 7:50 da tarde, Blogger Estrela do mar diz...

...passei para deixar um beijinho e desejar uma boa semana...logo que me sentir melhor, voltarei...

 
At novembro 13, 2005 8:16 da tarde, Blogger Su diz...

gostei de ler e de reler
"O Mal depende totalmente do nível de consciência de cada um"
gostei, penso que somos o somatorio de factores internos e externos e depois cada um ao agir, faz uma escolha
bem e mal coexistem em nós
jocas maradas

 
At novembro 13, 2005 11:46 da tarde, Blogger Conceição Paulino diz...

óptimo texto p/ nos centrar na reflexão.boa semana. Bjs de luz e paz :)

 
At novembro 14, 2005 12:07 da tarde, Blogger anapaula diz...

Acho que as duplicidades como bem e mal são redutoras. Nem tudo é o que parece. Como o texto diz há forças intrinsecas e extrinsecas que nos penetram. Há elementos de cariz subjectivo que a sociedade nos vai incutindo desde que nascemos e que moldam o nosso sistema de valores. E são essas coisas que vão condicionar as nossas boas ou más acções.
Acho que mais do que julgar ou rotular este ou aquele como "mau" devido às atitudes que toma devíamos era tentar perceber o porquê... Sei bem que isto é muito bom de falar mas não é de escrever, mas pelo menos em termos teóricos deveria ser assim.

 
At novembro 14, 2005 3:31 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Um tema intenso, como profundo é o Ser Humano e as escolhas que faz ou até nas q lhe são induzidas. Na minha vida já protagonizei actos maus, que num passado ñ muito distante não teria qq cabimento na minha vião do mundo e na forma cm m via nela. A razão de terem acontecido foi um amor que deveria ser sempre um acto belo, ou será esta apenas a minha desculpa para reviver no meu presente factos passados que condenei em outros? Cm bem foi dito o Bem e o Mal são muitas vezes a face da mesma moeda e nem sempre sabemos escolher a forma de pagamento. Fica bem,
p.s. admito, relativamente, ao teu post anterior, que o facto de nomeares Deus em muitos dos teus escritos me deixa de alguma forma constrangida, talvez porque ainda estou demasiado imbuída do Deus que me foi imposto e q eu ainda não sei perceber em mim.

 
At novembro 14, 2005 5:38 da tarde, Blogger Conceição Paulino diz...

uma boa semana. bj de luz e paz

 
At novembro 17, 2005 7:59 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

gostei muito de descobrir o seu blog.
virei de novo... com mais tempo :)

 

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