Lisboa,

sábado, fevereiro 18, 2006

sexta

Sexta-feira, último dia da semana, fim de tarde, céu nublado, chuviscando a miúde. Subo o último quarteirão da Gomes Pereira e aproveito para comprar meia dúzia de coisas no Mini-Preço. O largo passeio fronteiro daquela avenida costuma estar repleta de carros estacionados. Mas, naquela altura, havia bastante espaço vago. Somente um carro alguns metros abaixo, o que não deixou de surpreender.
- Olha, tivemos sorte! Temos aqui lugar, disse a Alice.
- Pois, isto é estranho. Tanto espaço vago...
Mesmo assim, estacionei e dirigimo-nos ao estabelecimento, mesmo na porta em frente, do outro lado da rua.
À entrada, tive novo pressentimento.
- O melhor é ires tu, porque eu fico aqui à porta, de olho no carro. O que precisas é muita coisa, é pesado?...
- Umas coisas, umas bebidas, mas é rápido...
Hesitei de novo. Olhei para o carro, mesmo do outro lado da avenida, sozinho, quieto. Tudo calmo, tranquilo... Até parecia novo, lavadinho ontem, visto assim de trás...


O pressentimento afrouxou e puxei um carrinho das compras. Olhei outra vez a rua e depois para o interior da loja.
Em poucos minutos, encontrámos o que precisávamos, mas a minha preocupação estava lá fora. Num impulso, larguei o carrinho das compras, e quase corri até perto da saída. No passeio em frente, lá estava ele, o Hyundai, limpinho, luzidio, dono e senhor daquele bocadão de passeio, ali deixado livre para o dono ir fazer as suas comprinhas. Tudo continuava calmo, ninguém ao lado, muito menos algum polícia...
Voltei ao interior da loja, ainda procurei a marca do vinho habitual (não havia...) e, para não perdermos mais tempo, fui sozinho para a caixa. Duas pessoas à minha frente. A Alice ainda ficou a procurar não sei o quê.
Estava a colocar as últimas coisas nos sacos e vejo um polícia de trânsito a dirigir-se para o meu carrinho. Eh, pá! Mesmo a tempo! Largo tudo e aí vou eu, quase chegando primeiro que ele.


- Oh, sr.agente, fui ali ao super rapidamente, mas já aqui estou; desculpe lá, eu tiro já o carro!
- É o senhor o dono? Mostre-me os seus documentos!
- Sim, senhor! - E tirei a documentação toda da carteira.
- Pois, sr. Amaral, sabe como é! Não sei se conhece as regras novas do pagamento. Tem que pagar o desbloqueamento em dinheiro (são 30 euros), e a multa do estacionamento pode pagar com o cartão multibanco (são outros 30).
Só então reparei no aparelhómetro amarelo que bloqueva a roda dianteira do lado esquerdo do meu rico carrinho! Ainda argumentei meia dúzia de frases nem sei pra quê, pois o fardado não dava qualquer indício de ir alterar alguma coisa daquilo que já tinha decidido, e, de pronto, fechei a boquinha. Acompanhei o mais-que-tudo ao outro lado da rua, onde verifiquei que o dito saira dum jipe policial e um companheiro seu esperava ao lado pelo desenrolar da situação.


A partir daí, puz a minha cara de "tá bem, faz bom proveito, e despacha lá isso!", paguei 30 euritos da minha carteirinha (ainda fiquei lá com 25...) e para o restante, exibi o meu "cartão" que ficou com menos 30 euros, assim que lhe meti o código!
Quase nem dei pelo outro ir com uma chavinha e trazer de volta o aparelho que bloqueara durante minutos a rodinha do meu Hyundai, espetei duas rubricas nos papéis (o preenchimento da multa deu tempo de sobra para o pessoal da rua ir apreciando o "espectáculo", recolhi os documentos e ala! Não me apeteceu dizer "obrigado" nem "passem bem!" nem outra coisa... mas não foi por esquecimento. Foi porque não me apeteceu dizer nada... Guardei tudo no bolso e "pensas que vou chateado, mas olha que não pareço!..."
Trinta metros mais à frente, dobro a esquina à direita e...


... o passeio do lado direito estava pejado de carros em cima do passeio. Uma dezena ou mais! Tudo em fila indiana, sem um papelinho de multa, com as rodinhas intactas, sem um polícia à vista, nada! Num passeio que era metade daquele onde eu fora multado segundos antes... A uma centena de metros da esquadra da polícia (a mesma que me multou), em frente à entrada da estação dos combóios de Benfica! Toma!!!...
A Alice proferiu um palavrão(?), eu mantive a minha opinião.
O culpado tinha sido Eu! Simplesmente!
Porque por duas vezes, tinha tido aquele pressentimento. Primeiro: "Não deixes aí o carro!"... Segundo: "Fica aí à porta, não entres e fica de olho no carro!"
Não dei ouvidos à intuição! Fui "avisado" e, embora estivesse alerta, não segui o aviso!
Portanto, ponto final!
Mais um motivo para "ficar mais atento" no futuro!
Vejamos se, de uma vez por todas, deixo de ter destas "falhas"!...

18 Comentários:

At fevereiro 18, 2006 9:38 da tarde, Blogger Lis57 diz...

Grande intuição que só falhou porque foste atencioso e carinhoso com a Alice.
Fizeste bem em não teres ficado chateado pois temos que aprender a viver com as injustiças.

Boa Semana

 
At fevereiro 18, 2006 9:49 da tarde, Blogger Meia Lua diz...

Muitas vezes "passamos por cima" dos nossos pressentimentos... Dizemos, não, é coisa da minha cabeça... mas depois não é... temos que confiar mais no que sentimos :)
beijinho (pena pelo dinheiro, mas pensa bem, é só dinheiro... vai e vem)

 
At fevereiro 18, 2006 9:51 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

A título de multa os 60 euros me parecem bem grandões, mas se for como valor de um momento de reflexão e do auto-conhecimento aumentado, bem ... esse tipo de "aula"
vale a pena pagar.
Um bom domingo e um beijo,
Jo

 
At fevereiro 18, 2006 10:00 da tarde, Blogger Carla diz...

Isso é que foi intuição, mas antes as multas que algo pior.
Bjx e bom fim de semana

 
At fevereiro 18, 2006 10:02 da tarde, Blogger lena diz...

uma atenção à Alice que mereceu a tua preocupação, a intuição estava lá, mas também sabe tão bem dar um pouco de atenção e carinho

a multa é que foi uma injustiça, será que foi por o carro estar lavadinho que lhes chamou atenção? às vezes esses senhores da autoridade fazem que não vêem o que não lhes interessa, com tanto carro à frente deles, tiveram que implicar com o teu

uma multa desnecessária, com tanto que se preocuparem

beijinhos para ti meu amigo

lena

 
At fevereiro 18, 2006 10:31 da tarde, Blogger Silêncios diz...

Ora pois, meu caro amigo, as intuições não são para desprezar. Por norma em situações delicadas , respiro fundo, sinto o que "sinto", e tomo a minha decisão. Não costuma falhar. Mas confesso-te uma coisa:em matéria de escolher amigos, falha bestialmente, e levo cada "chapadona", que ás vezes fico como tu, depois de pagar a multa, sem vontade de dizer nada!
Bijos para ti

 
At fevereiro 19, 2006 1:07 da manhã, Blogger Fátima Santos diz...

tu desculoa mas fartei-me de rir pelo tom meio encabulado com que vais narrando os acontecidos!delicioso!

 
At fevereiro 19, 2006 1:52 da manhã, Blogger Cláudia diz...

Ah intuição ... Nunca falha e ainda insiste, mas só nos resta aceitar também as nossas falhas, com toda a compaixão que elas merecem e pagar o preço que for preciso. Sempre que uma figura da autoridade nos aparece á frente, é um sinal de que devemos dar atenção á forma como andamos a lidar com a mesma, na nossa vida. Será que somos demasiado submissos? Será que somos demasiado exigentes ? De que forma é que o policia externo, se apresenta ao nível interno? E porquê eu? E porque não eu? São apenas hipóteses... Tudo o que nos acontece trás lições a serem aprendidas, e é fascinante descobrir os enigmas. FASCINANTE!

 
At fevereiro 19, 2006 10:09 da manhã, Blogger Memória transparente diz...

A intuição, o aviso e a alerta, que poderam não ser por este ordem.
Três "mecanismos" fundamentais, que sempre devemos seguir, eu sigo!
E como bem diz o culpado foi o Amaral.
Gostei bastante de ler.

Beijinhos.

 
At fevereiro 19, 2006 1:01 da tarde, Blogger LUA DE LOBOS diz...

essa de não confiar no teu instinto nem parace teu::)) mais uma lição... meu amigo ::))
xi
maria de são pedro

 
At fevereiro 19, 2006 2:16 da tarde, Blogger Esther diz...

Nunca desprezes tua intuição, querido Amaral , que em você deve estar bem desenvolvida...

 
At fevereiro 19, 2006 7:56 da tarde, Blogger Kalinka diz...

Um caso idêntico passou-se comigo há cerca de um mês, foi a 1ª multa k apanhei em toda a minha vida de condutora e já lá vão 32 anos a conduzir...fiquei revoltada pois vi que o polícia fez aquilo por maldade, não era caso para tanto, mas...lá diz o ditado:
quem pode, pode!!!
Apenas a falta do dígito da inspecção do carro afixado no vidro, mas mostrei-lhe que o tinha na mala dos documentos, foi mesmo embirração e lá levou tb 30 euros com ele, mas este não me deu possibilidade de pagar com multibanco, foi assim, dinheirinho vivo ali batido e mainada...

 
At fevereiro 19, 2006 8:33 da tarde, Blogger Su diz...

devias ter dito que tens um blog lindo q que te gostam muito:)))))
mas isso é um exagero de multa....
gostei do modo como contas a tua história...
jocas maradas e para a proxima atento a essa intuição

 
At fevereiro 19, 2006 9:32 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

As vezes pensamos que algo vai acontecer , mas acreditamos que não...mas elas lá vão acontecendo ...coisas justas e injustas...
pensadora

 
At fevereiro 20, 2006 9:37 da manhã, Blogger sofia. diz...

Isso é que foi intuição!
Deixa lá - já passou
Beijinho

 
At fevereiro 21, 2006 2:26 da tarde, Blogger Living Place diz...

Eu cá ficava com raiva, desculpa, mas ficava. Porque é injusto.
Mas enfim, tens que aprender a dar ainda mais valor à intuição, mas o facto de saberes que tens intuição já é muito bom, hà quem nem acredite nela.

 
At abril 01, 2006 1:34 da manhã, Blogger Eli diz...

Tinha passado cá, mas não tinha comentado, por isso, agora fica aqui registado que vim cá felicitar quem muda as coisas para melhor e trabalha em função dos outros com o objectivo de lhe melhorar a vida...

:)

 
At fevereiro 21, 2007 8:26 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

That's a great story. Waiting for more. » » »

 

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