Lisboa,

segunda-feira, maio 29, 2006

falamos tão pouco de Deus

O despertador tocou. Como de costume, o Rui deixou-se embalar naquela música suave e, quando deu por si, a meia hora que tinha "de margem" para o banho, para a barba e para o pequeno-almoço já não surtiu efeito. Não fora a mulher ajudá-lo no escolher do fato e no aprontar da pequena refeição, e nem tempo teria para dar um beijo de despedida aos dois filhos que a mãe aprontava para levar à escola.
Tirar o carro da garagem, enfiar-se na fila de trânsito, encontrar um local para estacionar e fazer a pé os últimos metros até ao emprego fizeram parte da correria última da manhã. Porque a hora do almoço chegou célere, a parte da tarde foi cheia de trabalho e o regresso a casa fez-se com as dificuldades habituais do trânsito.
A noite veio num ápice, o jornal foi lido nas parangonas, teve ainda um tempinho para se informar do que se passara com os filhos nas escolas e teve também alguns momentos de relaxe no sofá, enquanto espreitava um programa de TV com a mulher...



Mariana levantou-se "com as galinhas" e ficou só com a labuta da casa, quando o marido se despediu para se reunir aos colegas e rumar para a fábrica onde trabalhava.
Entre a limpeza da casa e o tratar do bebé de cinco meses não sobrou muito tempo. As refeições, a limpesa da casa, a lavagem das roupas, o engomar, limpar o bebé, dar-lhe de comer, sossegá-lo, distraí-lo, fazer as compras "miúdas" nas lojas perto - não lhe dá tempo para uma conversa com a vizinha nem para olhar se o céu está pouco ou muito azul...

O Rui aproveita os fins-de-semana para passear com a mulher e os filhos e pouco tempo lhe sobra para fazer visitas à família ou aos amigos...
A Mariana quase não tem fins-de-semana livres, mas não perde as festas da vila para visitar a feira e participar na procissão...

Quando fala da catequese com a mulher ou com os filhos, o Rui lembra que qualquer dia têm que ir à missa, mas acha uma chatice porque embirra com os "discursos" do padre...
Já a Mariana, quando pode, deixa a criança com o pai em casa e vai à igreja nalguns domingos, muito embora não entenda verdadeiramente nem metade do que se passa lá dentro nem o seu significado. Mas gosta, porque é bonito e não liga muito ao que o padre diz no sermão...

O Rui e a Mariana nunca se encontraram fisicamente. Vivem a muitas centenas de quilómetros um do outro e nem sequer são familiares nem conhecidos...

Ambos não se lembram já da última vez que, conscientemente, falaram de Deus. Não sabem nem querem saber dessas coisas "que não entendem"... Mas já foram a Fátima oferecer uma vela a Nossa Senhora e pretendem voltar.
No dia-a-dia não falam de Deus. É raro, muito raro, ouvirem falar de Deus...
Nem nas ruas nem nas suas casas nem nas casas dos seus amigos...
Para eles, Deus está muito longe, algures lá no Céu, para onde Ele os chamará, um dia, se acaso o merecerem...

19 Comentários:

At maio 29, 2006 5:17 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Mas quando Deus está dentro de nós, então falamos dele...
Para mim falar dele é olhar os pássaros, a lua, o sol, o céu, as estrelas, as pessoas...enfim...a natureza nas suas múltiplas formas. A luz que nos preenche e nos ilumina o caminho.
Igrejas... não frequento, mas nem por isso deixo de O sentir e de O viver!
Gostei muito do teu escrito. Como sempre gosto de vir aqui.
Abraços de luz

 
At maio 29, 2006 8:49 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Temos tão pouco tempo para olhar para a natureza e ver como é bela! Temos tão pouco tempo para olhar para nós e cultivar o amor, a amizade!
Se tudo isso for falar com Deus, concordo: falamos pouco, descuramos o essencial.
À Igreja só vou quando está sem ninguém porque é um lugar de paz, como tantos outros locais.
Beijos

 
At maio 29, 2006 9:08 da tarde, Blogger Ana Abreu diz...

Mas Deus está connosco, em cada gesto, em cada olhar, em cada sorriso...Ele está em nós e em tudo o que nos rodeia, basta fechar os olhos e sentir.

Deus não estará assim tão loge deles, pois Deus é Amor...e entre eles parece existir amor.

bjs

 
At maio 30, 2006 12:27 da manhã, Blogger poca diz...

sim... acho que retratas o normal da relação das pessoas com Deus...
e mais... lembramo-nos sempre mais quando precisamos...
pior do que isso... é já nem pedir...
pior do que não falar... é nem pensar!

 
At maio 30, 2006 12:32 da manhã, Blogger margusta diz...

Venho agradecer as tuas simpáticas visitas...perdoa não retribuir a tempo...o tempo é tão pouco...
Mas para Deus devemos sempre arranjar tempo...nem sempre o fazemos :(

Deixo-te um punhado de sonhos para sonhares !!!

 
At maio 30, 2006 12:56 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

Através de duas não-fábulas do cotidiano os Ruis e as Marianas na ponta de tua caneta trazem um sopro bem sutil, uma brisa mansa com aromas de podemos ... se quisermos, podemos. Se quisermos ...
Beijo, querido
Jo

 
At maio 30, 2006 9:01 da manhã, Blogger Maria diz...

Eu acho que todos nós acreditamos num Deus. No meu caso não sei bem se é o Deus tal qual a Igreja católica nos apresenta. A verdade é que quando as coisas apertam lá estamos nós a pedir ao santinho.

Quanto ao frequentar a igreja, Missa, ir a Fátima. Gosto de vez em quando de lá ir, não porque é bonito, ou... é pelo peso do silêncio confortante, pela paz interior que me causa, pela tranquilidade e serenidade.

Só fui a Fátima uma vez, já a minha filha tinha nascido e foi isso que senti quando lá fui. Paz.

Não vou dizer que não acredito em Deus, mas acredito que há algo.

 
At maio 30, 2006 10:03 da manhã, Blogger Desassossego diz...

Continuamos afastados do deus que trazemos formatado dentro da nossa cabeça, por isso tão longe do nosso coração...

 
At maio 30, 2006 10:29 da manhã, Blogger Living Place diz...

Há uns 7 anos atrás, podia descrever a minha vida como as pessoas que descreveste aqui.... depois deu-se o click, aquele que nem damos por ela e tudo parece mais belo, mas simples e mais verdadeiro.
No dia 25 vou fazer o Crisma... tudo mudou para mim.

 
At maio 30, 2006 12:17 da tarde, Blogger Quica diz...

Olá. Cruzo muitas vezes este caminho mas acho que nunca cá deixei nenhum comentário. Hoje apeteceu-me fazê-lo apenas para te dizer que gosto muito da tua mensagem.
Gostava de te dizer que Deus, para mim, está tão perto que passo o dia a "falar" com Ele. É verdade que falo pouco Dele mas, pelo contrário, falo, muito, com Ele. E sei que isso é muito importante para mim.
Bj

 
At maio 30, 2006 12:36 da tarde, Blogger Maria Carvalho diz...

É verdade. Tens razão. Este texto faz-me pensar. Foi bom, muito bom, tê-lo lido hoje. Beijos.

 
At maio 30, 2006 2:21 da tarde, Blogger Vica diz...

Lindo o texto, obrigada por compartilhar. Beijos.

 
At maio 30, 2006 6:59 da tarde, Blogger isabel mendes ferreira diz...

hoje só isto...............obrigado.


um abraço.

 
At maio 30, 2006 8:38 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Voltei e deixo um sorriso...

 
At maio 30, 2006 8:48 da tarde, Blogger Fragmentos Betty Martins diz...

Olá querido Amaral

Pois é, estou de volta! Pelo menos até Julho.

Obrigada pela visita, na minha ausência (de coração)

Volto mais tarde para ler e comentar

Beijinhos

 
At maio 30, 2006 8:52 da tarde, Blogger vero diz...

Olá querido amigo, estou de volta! Passei p deixar um beijinho***

 
At maio 30, 2006 9:42 da tarde, Blogger BlueShell diz...

De facto falamos tão pouco de Deus e COM Deus!!!
Eu...por vezes falo...principalmente para dar Graças por tudo quanto recebo sabendo que nada mereço!

Gostei!
Um beijo com ternura!
BShell_*_*_*_*_*_*
:=:=:=:=:=::=:==:=:

 
At maio 31, 2006 12:50 da manhã, Blogger Cláudia diz...

Olha amaral passam-se dias e dias, que não tenho tempo para te visitar, mas sempre que o faço, é com uma emoção profunda.Este texto é fortissímo, pois reflecte na perfeição e com muita simplicidade,a forma como milhões de pessoas vivem o sue conceito de Deus.Não importa quão diferentes possam ser, ou a que distância possam estar, uma coisa os uniu e unirá para sempre.A Fonte de tudo o que É. muito belo mesmo...

 
At maio 31, 2006 12:52 da tarde, Blogger Silêncios diz...

Olha, estou um pouco como a Mariana...
Confesso que não entendo o que os padres dizem, mas tão pouco preciso deles para me entender com Deus.Igrejas...adoro, qd estão vazias e posso entrar nelas e estar ali o tempo que me apetece, sem ter que obedecer a regras, ou ouvir coisas que para mim não têm sentido.
Acho que é tudo tão simples...e que a maioria dos seres humanos complicam tudo demasiado!
Todos os dias agradeço a Deus o facto de estar viva, aprecio cada pétala de vida existente à minha volta...
E mais não digo, que isto já vai longo!
Mais um beijo para ti

 

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