Lisboa,

terça-feira, maio 09, 2006

todos somos


Vivemos num mundo onde cada coisa está em relação com todas as coisas, onde cada pessoa vai experimentando o que quer que seja, sempre em relação a algo ou a alguém.
Inconscientemente, isto acontece com toda a gente. Conscientemente, acontece só com alguns de nós.
Todas as forma físicas são percepcionadas através dos sentidos. Uma pedra, uma árvore, a água dum riacho, o próprio vento "existiriam" na mesma, se nenhum dos meus cinco sentidos funcionasse. Assim como as ondas rádio "estão lá", tenha eu ou não um receptor para as captar.
Ao olhar um amigo reconheço-o como tal e ao olhar para mim identifico-me como a pessoa que sou. Os meus sentidos "dizem-me" isso mesmo e, na minha concha, elevo-me à condição de "ser" especial, concentrando tudo aquilo que possuo (ou julgo possuir) no indivíduo humano que se vê num mundo complexo, onde entrou sem ter pedido para entrar e onde reconhece que tem algo a fazer para sobreviver nele.
Ao fim de uma dezena de anos, o ser humano nascido para este mundo dá-se conta que tem um corpo e é com esse corpo que a sua relação com a vida se pode manifestar.
Aprende-se na escola, aprende-se mo meio familiar, aprende-se no convívio dos amigos, aprende-se nos meios de comunicação, aprende-se com os olhos e os ouvidos, principalmente.
O culto do corpo destaca-se por todo o lado. A imagem do corpo ocupa lugares cimeiros. A velhice do corpo é escondida por disfarces. O elixir da longa vida continua a ser procurado.
O mundo avança ao sabor do tempo que voa. Com os corpos lindos do jet-set, os corpos ensanguentados nos campos de batalha e os corpos franzinos na pobreza da fome ou na doença da morte.

Os noticiários dos jornais e da TV não se compadecem. Relatam cruamente factos e acontecimentos e ajudam a encher a mente humana de padrões, conceitos, valores, princípios...

Eu gosto do meu corpo. Pensando bem, talvez não goste tanto como devia... mas, isso não tem importância. Gosto mesmo... porque é este o meu, embora nada tenha de parecido com o do .. Acho que todos pensamos assim, ou quase todos, ou uma grande parte... Afinal, bem poderíamos ter em casa mulheres mais parecidas à Grace Kelly ou
Se os olhos são gulosos, também o são o tacto, o cheiro, o sabor, o próprio ouvido ao escutar sussurros de amor...
Será que eu acredito que o meu corpo tem um querer próprio, tem poder para decidir, tem capacidade para me me definir como a pessoa que eu sou?...
Quando a minha relação com o mundo que me rodeia já criou em mim uma identidade própria, apercebo-me (ou esclarecem-me) que o pensamento não deve ser somente direccionado para a lógica das coisas e dos acontecimentos.
Não me lembro de me terem ensinado nada sobre isto em nenhuma disciplina da escola. Não me lembro de me terem dito que EU não sou o meu corpo.... nem a minha mente...
Mas foi-me ensinado que cada pessoa tem de fazer pela vida, tem de batalhar, tem de fazer tudo para sobreviver, tem de matar para impôr as suas verdades...
Continuam a afirmar-me que sou um indivíduo e aquele é outro indivíduo, e este dinheiro é meu, e esta casa é minha e este país é todo meu com todas as riquezas que ele tem. O mundo está cheio de leis e de regras e de regulamentos.
Mas não há uma que afirme que tudo é de todos, porque todos somos um bocado de Uma Única Coisa Que Existe...

22 Comentários:

At maio 09, 2006 9:35 da manhã, Blogger Sol diz...

Muito Bom!

Sempre em alta, hum?

Boa semana

 
At maio 09, 2006 9:36 da manhã, Blogger Luis Carlos diz...

Olá Amaral,

É por isto que descreves, que eu comecei a apreciar o meu oposto, sem ele não me consigo definir nesta realidade relativa, então porquê rejeitá-lo, amaldiçoá-lo, matá-lo. Apenas decido não ser o meu oposto.

Até já,
Luís Carlos

 
At maio 09, 2006 11:01 da manhã, Blogger Santa diz...

Amaral,
Cheguei aqui através do blog da Betty. Gostei muito do que li.
Um abraço aqui do Brasil.

 
At maio 09, 2006 1:35 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Não há sequer uma regra que afirme que tudo é de todos e no entanto é exatamente assim que é. Que reflexão rica nos propõe hoje, Amaral. Olha só, há este texto de Sathya Sai Baba que nos fala de coisas semelhantes a estas.

"Prosseguindo ao longo da estrada, você pode ver sua sombra sobre o barro ou a sujeira; o vale ou a colina; os espinhos ou a areia; a terra seca ou molhada. O destino de sua sombra não afeta o seu, não é mesmo? Nem a sua sombra se torna suja. Ela não se preocupa nem remotamente com o lugar onde cai nem tem a menor dificuldade para atravessar o caminho. Sabemos que a sombra e suas experiências não são eternas nem verdadeiras. Da mesma forma, você deve se convencer de que é uma SOMBRA DO ABSOLUTO e essencialmente não é este VOCÊ, mas o próprio ABSOLUTO."

Obrigada por este post e um beijo,
Lucky Jo

 
At maio 09, 2006 5:40 da tarde, Blogger Maria Carvalho diz...

Gostei imenso do que li. Beijos.

 
At maio 09, 2006 8:55 da tarde, Blogger vero diz...

Passei num instantinho p deixar um beijinho***

 
At maio 09, 2006 9:49 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

As pessoas passaram a ser valorizadas pelo que têm e não pelo que são, daí...
Um dia, há muito tempo atrás todos ouvimos:
- não matarás
- não roubarás
- não caluniarás
- não insultarás
-não cobiçarás
- não mentirás
- ...
...." amar a si mesmo e aos outros"
Sim, somos todos um bocado de Uma Unica Coisa Que Existe- o Todo, o puro amor e para os mais cépticos- energia.
Estou fã do teu blog :)
Ani

 
At maio 09, 2006 10:14 da tarde, Blogger laramablog diz...

Tudo tem o seu ser!... O mundo avança mais inconscientemente do que poderemos pensar... A consciência universal controla a existência, e a evolução não abranda o seu passo...

 
At maio 09, 2006 10:55 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

somos...um todo universal, do qual uns têm consciência e outros não...
Muito bom como sempre!

 
At maio 09, 2006 11:28 da tarde, Blogger Desassossego diz...

deve ser por isso que eu tento encontrar outros pedacinhos... que como eu deambulam com tantas dúvidas e ansiedades em busca de não sei o quê...talvez para ter a certeza que fazemos parte de uma coisa única ...

 
At maio 09, 2006 11:49 da tarde, Blogger Kalinka diz...

AMARAL
Como sempre, fico sem palavras para comentar os teus tão profundos textos...demasiado reais que me deixam sempre em grandes reflexões.
Mas, quero aqui dizer-te, em relação à tua visita ao meu kalinka, que te proponho como júri das minhas fotos e elas continuam a aparecer, vai dando a tua pontuação, pois é assim que começarei a melhorar...sendo avaliada e, aprendendo o k está certo ou errado. Beijokas.

 
At maio 10, 2006 12:03 da manhã, Blogger Carla diz...

Tenho estado ausente por motivos profissionais, passarei sempre que puder para le ler.
Beijos

 
At maio 10, 2006 1:37 da manhã, Blogger Caritas souzza diz...

Sempre te lendo, sempre admirando, sempre voando nas asas dessas palavras de seu lindo blog... Desejo uma excelente quarta feira e abraço fraterno

 
At maio 10, 2006 3:33 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

A música nos convida a ficar...o texto muito bom...daqui nada levamos e nada nos pertence, apenas nossas lembranças é que nos acompanham...parabéns por tudo! Beijo da Cris.

 
At maio 10, 2006 2:22 da tarde, Blogger Unknown diz...

Olá meu querido amigo li o teu post e fiquei a imaginar trudo o que descreves sobre a vida a posse o poder que temos e o dom do que temos, para mim é muito bom pois adoro viver, mesmo que os meus caminhos sejam espinhosos é sempre fantástico estar cá e ver o sol nascer e por-se todos os dias.
Beijinhos amigo

 
At maio 10, 2006 3:11 da tarde, Blogger sofia. diz...

É bem verdade.
Somos o que somos e como somos sempre relacionados com o resto - pessoas lugares situações
Relação e relativos...
Beijinho

 
At maio 10, 2006 5:50 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

OLÁ
PARABENS PELO DESTAQUE NA GB
BEIJÃO

 
At maio 10, 2006 8:15 da tarde, Blogger Fátima Santos diz...

vinha dizer-te: vai ler-me. e fico pregada a ler este teu texto limpo! sabes que eu acho que este modo de sentir/viver é aprendido muito tarde na vida e á custa de muita dor...porque não de modo natural?!

 
At maio 11, 2006 1:27 da manhã, Blogger poca diz...

uma pessoa lê um texto deste, com este som e pensa... ainda bem que cá entrei! já cá não vinha há algum tempo...
este é o meu tipo de discurso.... e sim, falo sobre isto na escola.
não sentes muitas vezes, que os outros não estão preparados para receber a mensagem que lhes queres passarm?!
às vezes é isso, e de facto ninguém te ouviu, outras vezes, o clic faz-se mais tarde... mesmo que tu nunca chegues a saber que foi por ali que começou...
beijinho grande

 
At maio 11, 2006 8:17 da tarde, Blogger Su diz...

adorei ler.te
muito....sempre...
jocas maradas

 
At maio 11, 2006 11:36 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Rematas o texto de forma concisa e genuína.
Fica um beijo

 
At maio 14, 2006 10:51 da tarde, Blogger DaJe diz...

Há tanto tempo... Por razões que eu própria desconheço (ou um acumular de vontade adiada)resolvi dar uma olhadela ao mundo dos blogs, do qual me desliguei por completo. Claro que o do Amaral foi um dos primeiros que resolvi vir ver. É bom chegar aqui e encontrar o mesmo ESPIRÍTO DE LUZ que sempre foi e que consegue passar com as suas palavras através deste pequeno espaço virtual. Emocionei-me ao ler este texto em particular. A forma como vê as coisas com tamanha clarividência e simplicidade é lindíssima.... Continue sempre assim!!!
De qualquer forma, só passei para deixar um beijinho e tentar acompanhar "o que deixei para trás"... aqui... (pois como sabe ando por outras paragens...)
Beijos ternurentos e saudosos da empatia que me criou*

 

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