Lisboa,

terça-feira, julho 04, 2006

a parábola da brancura

Imagina que estás num quarto branco, com paredes brancas, chão branco e tecto branco. Um quarto sem esquinas nem cantos visíveis. Imagina que estás suspenso no ar por qualquer força invisível. Flutuas no espaço branco. Não consegues tocar em nada, não ouves qualquer som. Tudo o que vês é brancura. Durante quanto tempo achas que conseguirás "existir" por experiência própria?

Existirias, mas nada saberias sobre ti próprio. Em breve perderias o juízo.

Sairias da tua mente, literalmente. A mente é a parte de ti que confere sentido aos dados provenientes do exterior. Na ausência de quaisquer dados, a tua mente fica sem nada para fazer.
Assim, no momento em que saísses da tua mente, deixarias de viver por experiência própria. Ou seja, deixarias de saber fosse o que fosse sobre ti próprio.
És grande? És pequeno? Não sabes, porque nada existe além de ti com o qual possas comparar-te.
És bom? És mau? Não sabes. Saberás sequer que existes? Não, porque nada existe à tua volta.
Nada podes saber sobre ti próprio por meio da tua experiência. Podes conceptualizar tudo o que quiseres, mas não podes experimentar nada.

Então, algo acontece e tudo muda. Surge um pequeno ponto na parede. Como se alguém tivesse entrado no quarto com uma caneta de tinta permanente e deixado uma minúscula marca na parede. Não sabes como apareceu aquele ponto, mas pouco importa, porque o ponto salvou-te.
Agora, existe mais qualquer coisa. Existes tu e o ponto na parede. Subitamente, podes voltar a fazer algumas decisões, podes viver algumas experiências. O ponto está ali. O que significa que tu estás aqui. O ponto é mais pequeno que tu. Tu és maior que o ponto. Começas de novo a definir-te - em relação ao ponto na parede. A tua relação com o ponto torna-se sagrada, porque te devolve um sentido de ti mesmo.

E depois, surge no quarto um gatinho, e tu começas a expandir a tua autodefinição. E então compreendes. Só na presença de outra coisa podes conhecer-te. Essa outra coisa é aquilo que tu não és. Portanto:
Na ausência daquilo que Não És, aquilo que És... não é.

Recordas, pois, esta enorme verdade e juras não voltar a esquecê-la. Acolhes de braços abertos cada nova pessoa, lugar e coisa. Não rejeitas nada, porque compreendes que tudo o que acontece na tua vida é uma benção, oferecendo-te novas oportunidades para definires quem és e para te conheceres como tal.

(Neale Walsch in Amizade com Deus)

14 Comentários:

At julho 04, 2006 7:12 da tarde, Blogger Desassossego diz...

Olá Amaral...lindo sem sombra de dúvida nós seremos sempre mais nós quando nos partilharmos com o outro sabendo como o outro nos vê, sente e assim como que olhando no espelho saberemos mais de nós... muito bonito obrigada pela partilha...um singelo Xi para ti...

 
At julho 04, 2006 7:16 da tarde, Blogger Sol diz...

...e é pela convivência com os outros que nos descobrimos, mas também nos transformamos? Será verdade que as pessoas mudam?

Se assim é, que continuem a surgir sempre pessoas novas e novas experiências, para mudar constantemente, de preferência para um ser melhor.

 
At julho 04, 2006 8:25 da tarde, Blogger Meia Lua diz...

Acho que na vida temos alguns momentos de brancura... aqueles em que não sabemos o que fazer, não nos reconhecemos mais, indefinidos. Então vem a mudança, algo muda interna ou externamente e voltamos a nos redescobrir...
:)

 
At julho 04, 2006 10:17 da tarde, Blogger tb diz...

um pensamento harmonioso do ser...e um hino à amizade e partilha.

 
At julho 05, 2006 8:27 da manhã, Blogger Adriana Gomes diz...

Olá Amaral venho dizer-te bom dia, e trazer-te um beijinho

 
At julho 05, 2006 9:43 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

Verdade o que acabei de ler. Beijos.

 
At julho 05, 2006 12:40 da tarde, Blogger Isabel Filipe diz...

....um belo texto...

que me fez pensar que teve ser um verdadeiro pavor perder a memória.

Bjs de bom dia.

 
At julho 05, 2006 3:24 da tarde, Blogger Aragana diz...

Este excerto fez-me recordar quando li o Fedon de Platão.. há uns bons anos atrás.

Um bom dia para ti!

 
At julho 05, 2006 9:07 da tarde, Blogger Luna diz...

Quem sabe se na ausencia da mente, descobriria a minha verdadeira essencia, será que o que sou é um corpo fisico, com monte de defeitos, que ao fim de alguns anos este corpo já gasto acaba num canto devorado pelo vermes, será que não seremos algo diferente, mais sublime, que o nosso entendimento tridimensional não entende?
gostei do teu rexto
beijos

 
At julho 05, 2006 11:29 da tarde, Blogger Carla diz...

So podemos crescer, com o que nos rodeia...
Beijos

 
At julho 06, 2006 12:40 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

É que a partilha é condição sine qua non para a centelha divina flamejar. Excelente texto, Amaral!!
Beijo,
Jo

 
At julho 06, 2006 1:19 da manhã, Blogger Ana diz...

Os outros são uma forma de nos conhecermos. Contigo tenho aprendido sobre mim. Obrigada, Amaral.
Um beijo.

 
At julho 06, 2006 9:51 da manhã, Blogger Dark-me diz...

A vida é isto mesmo...darmo-nos a conhecer e conhecermos, moldarmo-nos uns aos outros.
Para não variar, a tua forma de escrever deixa-me estática :)
Bjo

 
At março 06, 2007 11:38 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

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