Lisboa,

sábado, janeiro 27, 2007

sexta-feira


O resto de quinta-feira sacudiu-me a manhã e acompanhou-me num estado de ser não muito alegre.

Então, fui ver o mar!

Muito se tem falado do mar que está a ameaçar as dunas do lado norte da Costa de Caparica. Cada tonelada de areia que é depositada na zona afectada é imediatamente levada na próxima maré. Lentamente, o mar vai galgando o espaço que dantes era areal aprazível, e uma parte dum bar que ali fazia negócio desde há muitos anos, não resistiu às investidas das ondas e ruíu, sem oferecer qualquer resistência.
Os pontões que o homem vem construindo, com pedras enormes, ameaçam desaparecer sob as marés vivas, ano após ano.

Comi umas lulas à pescador que, não sendo do que mais gosto, estavam muito bem confeccionadas.

Quando reentrei na praia, com a tarde a declinar, a luz do dia pareceu-me mais quente, o ar frio fluía de modo mais sereno e havia uma paz diferente e quase nova.
Uma mansidão fazia-se sentir à minha volta, como se tudo estivesse a "ser", simplesmente.
Encostados às rochas, uma dezena de surfistas, em amena cavaqueira.
Uma das praias era pertença duma centena de gaivotas, vigiando as ondas que vinham depositar-se perto delas.
A luz da tarde caía colorida, enquanto um vento frio me esfriava o rosto.
O mar parecia estar brando, mas junto aos enormes pedregulhos que o homem depositou mar dentro, as ondas intensificavam a sua força, batendo forte e ruidosamente.

Na direcção sul, a praia tornou-se maior e o areal estendeu-se, quando os pontões de pedra deixaram de se avistar. Aqui, o mar ficou-se mais além, deixando-me a pensar que era isso que ele faria, se não tivesse pedregulhos a "ameaçá-lo".
A lua, no seu quarto crescente, esbatia-se no azul do céu, um azul esbranquiçado que as nuvens haviam deixado sozinho.
Meia dúzia de clientes recostavam-se nas cadeiras das esplanadas, lendo o jornal ou contemplando simplesmente o vai-vém das ondas.
O Sol convidava ao repouso. De quando em vez, uma ou outra pessoa passava em marcha apressada, no seu exercício diário para manter a forma física.
O artista da bola, junto ao Barbas, e dois banhistas, de tanga, vindos a correr da água (gelada), mostrando que para eles o Inverno é apenas um Verão frio, faziam a diferença, nesta tarde de sexta-feira.
Mais em baixo, um homem e o seu cão saboreavam o quente do sol, como se mais ninguém existisse no mundo. Quando passei, o cão, pequenino e peludo, olhou-me, levantou-se, mas logo regressou à sua postura, ao lado do dono.

Debaixo do braço, segurava o livro que só então abri para ler um pouco - Amizade com Deus. Caminhando pela areia ainda molhada, fui lendo:

"Não precisas de nada para seres feliz. Essa necessidade que julgas ter é uma ilusão. Descobrirás dentro de ti uma profunda e perfeita felicidade - e no momento em que o fizeres, nada de exterior a ti poderá igualá-la, nada poderá destruí-la.
Porque será que não conseguimos sentir essa felicidade?
Porque não a procuras. Porque tentas experienciar a melhor parte de ti no exterior de ti próprio. Tentas experienciar Quem És através dos outros, em vez de permitires aos outros experienciarem Quem São através de ti.
"

Pouco a pouco, a tarde ia caindo e dando lugar a um anoitecer frio, muito frio...

14 Comentários:

At janeiro 27, 2007 12:59 da manhã, Blogger Unknown diz...

Gostei muito do que li, infelizmente é uma perda de tempo e dinheiro o depósito de areias na Costa, enquanto não forem construídos paredões firmes, tal como na Figueira da Foz, o esforço será vão.Parabéns pelas fotos.Adoro o mar e irei passar por aqui mais vezes.
Bom fim-de-semana

 
At janeiro 27, 2007 1:44 da manhã, Blogger Jonice diz...

A descrição do cenário e de uns e outros que alí estavam com seus afazeres ou a fazer nada (il dolce far niente!)tem a capacidade de apetecer-me. Beira-mar e inverno são duas coisas que ainda não andaram juntas em minha vida, e tenho grande vontade!
Umas palavras sobre o trecho de tua leitura: quando comentei no post "faz feliz a parte de Mim que és tu", eu não estava fazendo prognósticos, o que quis dizer é que a experiência que tiveste e nos relatas-te é um ponto de partida de um processo interno que ora vivencias, e o percurso deste processo é encontrares teu centro de felicidade, portanto, é o caminho que percorres neste momento. É assim que sinto, Amaral, acho que identifico este processo, acho que reconheço seu "cheiro".

 
At janeiro 27, 2007 1:44 da manhã, Blogger Maria Carvalho diz...

Donald Neale Walsch? Esse livro ainda não li. Mas o poema que comentaste há pouco já aponta um caminho! Obrigada pelas tuas palavras no eco e adorei as tuas aqui. Muitos beijos.

 
At janeiro 27, 2007 1:46 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

Mar... Maravilhoso...
Sempre o mar...
Lindo o mar e o poema...

Fotos lindas!

Bjus.

 
At janeiro 27, 2007 2:41 da manhã, Blogger avelana diz...

gostei do teu passeio mar adentro;
por aqui fica-nos a serra inóspita, agora coberta de neve , as estradas cheias de gelo e o frio intenso que as brasas da lareira custam em fazer passar...

bom fim de semana

 
At janeiro 27, 2007 11:35 da manhã, Blogger Dark-me diz...

O mar...tb adoro ir fazer-lhe uma visita de vez enquando. Faz-me bem à alma!!
Lindas as tuas palavras e magnificas as fotos :)

Bjo

 
At janeiro 27, 2007 3:28 da tarde, Blogger Desassossego diz...

Fiquei deliciada, pelo texto, pela música e pela reflexão final... Ser e sentir-se feliz....

Um beijo doce.

 
At janeiro 27, 2007 3:30 da tarde, Blogger Poemas e Cotidiano diz...

Querido Amaral: Eu me delicio com seus textos. Que maravilha meu amigo, essa sua experiencia. Assim quando nos sentimos tristes, ou algo nao vai bem com a gente, procurar a natureza, e nela, Deus. Deus esta em todas as partes, mas na natureza, no mar que Ele fez, no por-do-sol maravilhoso que vemos, isso nos faz ficar mais perto Dele.
E uma frase sua me chamou atencao: " como se tudo estivesse a "ser", simplesmente". Isso eh Deus. "Ser" simplesmente. De um modo natural, procurarmos dentro de nos a simplicidade de todos os momentos, e nos entregarmos a eles com o nosso coracao.
Tao lindo meu amigo, esse seu post. As fotos, o seu narrar.
Um beijo carinhoso
MARY

 
At janeiro 27, 2007 7:35 da tarde, Blogger Su diz...

amei esse mar

por momentos passeei contigo

jocas maradas de ondas

 
At janeiro 27, 2007 9:35 da tarde, Blogger Brisa do Mar diz...

Essa paisagem...
Caminhar à luz do Sol numa praia solitária...
Um tempo para partilhar em silêncio...
A felicidade, essa vem de dentro para fora, procura-a dentro de ti.
Muitos erram quando procuram alguém que o/a faça feliz, ou de alguma coisa (um bem material, por exemplo)...
Não sabem o quanto estão errados...
A felicidade está em nós...
Nem sempre é fácil encontrar o caminho...
Desejo que neste barco da vida os ventos te sejam favoráveis, que hajam boas marés e que elas te guiem a bom porto.
Fica bem...

 
At janeiro 27, 2007 9:56 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Já á muitoo que por aqui passo, e fico a ler seus textos. Essa sua música de fundo, dá que pensar! Tem um poder de escrita maravilhoso em suas mãos, não o desperdíce nunca. Contudo, espero ter opurtunidades de passar por cá mais vezes...

(jekinhaz)

 
At janeiro 27, 2007 11:01 da tarde, Blogger Luna diz...

Fotos lindas, quantas vezes na minha vida estive nessas praias, fui criada na Cova da Piedade e Almada, fizes-te me recordar o passado.

Tens razão quando dizes que temos de procurar a verdade em nós mesmos, mas com esta vida tão densa tão agitada, as pessoas o pouco tempo que encontram é para se "divertir" pensando assim comatar o frio da existência, mas só procurando serenar ,e nos entendermos poderemos um dia ir de encontro á felicidade, algo que desconhecemos

 
At janeiro 27, 2007 11:55 da tarde, Blogger Nanny diz...

Que sorte tiveste em poder passear assim pela beira mar, num final de semana é sempre reconfortante e ajuda-nos a por os pensamentos em perspectiva.

Também tive sorte em passar por aqui hoje, este teu texto e a música deixaram-me calma e em paz comigo mesma.

Obrigada!
Festinha da gata no coração

 
At janeiro 28, 2007 9:15 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Uma curiosidade...nesse dia por essa hora deambolei por aí à procura dessa felicidade que o mar traz até mim...
Lindo, o teu olhar aqui colorido por pinceladas de amor.

 

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