Lisboa,

sábado, maio 26, 2007

parede de nada



Negra torrente de côr
brota dura no teu quarto.
O dia e a noite
já são um,
estampados, corpulentos,
na parede escorreita
dum passado já distante.

Vêm feras, vêm aves,
todas no sombrio grasnar
da fresta escura,
projectada na alva redoma
das doces recordações.

Os meus passos são as aves,
e as feras os meus braços
apagando as imagens
luzidias
duma paixão destroçada.

As garras do passado
descobrem a nudez vazia
duma parede de nada.

Lento e mudo
o silêncio esbarra manso
no esvoaçar dormente
duma vida que foi um dia.


(Amaral Nascimento)

11 Comentários:

At maio 26, 2007 11:43 da tarde, Blogger Unknown diz...

Sempre o passado..o ontem..o hoje as pedras que vão ficando no nosso caminho...
um abraço
brisa de palavras

 
At maio 27, 2007 4:01 da manhã, Blogger Páginas Soltas diz...

Não importa que escrevas sobre o omtem e o passado...
Mas sim...sobre o que te faz bem escrever!

Já tinha saudade de te ler!

Um bom domingo meu poeta!

Beijo da Maria

 
At maio 27, 2007 7:33 da manhã, Blogger Paula Raposo diz...

Lindíssimas as tuas palavras!! Muitos beijos.

 
At maio 27, 2007 2:29 da tarde, Blogger tb diz...

aprendemos lentamente a caminhar desprendendo-nos das amarras...

 
At maio 27, 2007 4:48 da tarde, Blogger vida de vidro diz...

Por vezes é necessário escrever sobre o passado... exorcizar as dores, os demónios. Mas a vida é hoje. **

 
At maio 27, 2007 7:31 da tarde, Blogger sonhadora diz...

Li e sonhei.O passado, o presente...tanto faz para uma sonhadora.
Beijinhos embrulhados em abraços

 
At maio 27, 2007 11:02 da tarde, Blogger Ana diz...

Essa parede, que te parece de nada, é feita de doces recordações. As tuas palavras têm a sua forma e desfazem qualquer silêncio que pretenda instalar-se.
Um abraço, Amaral.

 
At maio 28, 2007 12:46 da manhã, Blogger ...HOJE.SOU.A.PAULA diz...

No meu post anterior despedi-me da Broken…
Convosco partilho alguns excertos de um monólogo por mim escrito de coração aberto áquele a quem Broken sempre se dirigiu.
Nas minhas palavras perceberão a razão pela qual me despedi da personagem por mim criada, à minha imagem, enquanto mulher invadida pela dúvida...

 
At maio 28, 2007 8:46 da manhã, Anonymous Anónimo diz...

O passado por mais que possa doer , faz sempre parte de nós.
Beijito.

 
At maio 28, 2007 12:30 da tarde, Blogger ju diz...

...E VIVA O POETA!

 
At maio 28, 2007 10:10 da tarde, Blogger Cláudia diz...

"As garras do passado descobrem a nudez vazia de uma parede de nada"... É do nada que nasce o tudo.Nada como uma tela em branco para dar lugar ao novo.Que renascimento amaral!

 

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