alma gémea

Numa certa altura desta vida na terra, acreditei que havia encontrado a "companhia" que iria criar comigo, nesta existência, a tarefa e os objectivos a que me propuzera esta encarnação.
Todos pensamos nisto, nalguma fase da vida.
Alguns fá-lo-ão inconscientemente. Outros, mais dados às coisas espirituais, crêem mesmo nos projectos de vida onde estão inseridos como resultado dum processo mais amplo ligado à divindade.
Há quem acredite em almas gémeas, outros nem por isso.
Eu estava convicto que encontrara, nesta existência, a minha alma gémea, e juntos iríamos partilhar os caminhos da evolução, fossem eles mais tortuosos ou mais rectilíneos.
Rezam certos livros que no mundo espiritual reina a lei da Harmonia. Segundo dizem, não será possível, depois desta vida, reencontrarmos uma pessoa com quem fomos infelizes ou incompatíveis.
Se um casamento falhou, se o matrimónio foi um fiasco, se a pessoa com quem nos relacionámos nos "destruíu" o conceito de felicidade e tornou dolorosa a nossa "alegria de viver", essa pessoa não irá fazer parte dos seres espirituais que nos aguardam na nossa inevitável passagem para a "outra vida".
É o que dizem esses livros e é o conceito tibetano e budista.

A ironia de tudo isto estará nas grandes e extraordinárias experiências vivenciadas por ambos, enquanto a harmonia foi a verdade predominante. Verdade para um ou meia-verdade para outro, o que é perfeitamente natural num mundo dominado pela relatividade.

A ironia estará na fragilidade das opções que determinam a verdade dum relacionamento. Nenhuma verdade é imutável.

A ironia estará na confiança e dedicação completamente entregue a uma vida a dois, e retalhada logo a seguir, quando o caminho de ambos tende a desviar-se por interesses diversos.

A ironia estará no facto de dois seres viverem uma parte da vida como dois amantes perfeitos, como "duas almas gémeas", e, quando a relação se apaga, e porque nem sempre uma simples amizade fica como resíduo, não voltarão a encontrar-se no "mundo espiritual", porque a Harmonia não os conduz ao mesmo "lugar".

Tudo isto a propósito destas linhas que li algures:
"Se você e os seus pais forem incompatíveis, e não se derem bem, se não forem felizes juntos, se não se adaptarem uns aos outros, nesse caso não se encontrarão em qualquer plano da existência. O mesmo se aplica aos parentes, ou marido e mulher."

Para mim, este conceito budista poderá ter um senão:
O Reino de Deus não pode ser compartimentado! Quando regressarmos ao mundo espiritual, TUDO pode ser compreendido à luz da sabedoria divina. E certamente entenderemos o PORQUÊ de cada encarnação, o PORQUÊ dos fracassos e vitórias, o PORQUÊ de cada escolha - com o entendimento que um outro nível de consciência permite...

Certamente entenderemos!...