olhos nos olhos - parte 3
Li há pouco tempo que uma pessoa que passa por uma experiência deste tipo, não tem qualquer dúvida da sua realidade e da sua importância. A minha experiência não foi uma experiência-tipo de vida pós-morte, daquelas que muitos médicos-investigadores compilaram e estudaram. No meu caso, eu não me senti desprender do corpo e elevar-me acima do solo, e não contemplei "do lado de fora" o corpo estendido na marquesa. Eu não passei por um túnel escuro, não vi uma luz brilhar ao fundo desse túnel, nem "vi" pessoas à minha espera, prontas a acolher-me e a levarem-me consigo.
A minha experiência foi diferente de tudo aquilo que li, porque foi dividida em duas partes completamente distintas e completamente separadas no espaço e no tempo.
Concordo em absoluto que, após a morte, a alma entre numa "vertigem" e se encontre num vácuo - não um vácuo físico, mas um vácuo sujeito aos seus próprios limites e onde a consciência ainda existe.
E estou a falar da morte, como elemento comparativo, já que não poderei afirmar que "morri", ou que estive perto da morte, ou que estive "para além" da vida terrena, ou que estive noutro estágio qualquer. Não poderei afirmar nada disto, à luz da medicina actual ou dos conhecimentos actuais, já que o médico-cirurgião que me "operou" não sabe explicar o que me terá acontecido. Não sabe, nem percebe exactamente o que se passou. Na sua vida de médico, este foi um caso único, sem uma explicação exacta. Ainda hoje recordamos o caso e eu sinto que ele procura minimizar a questão, com explicações como "uma determinada reacção" ao produto anestésico ministrado na altura.
Mas para mim foi uma experiência perfeitamente indiscutível, longe da linguagem humana e das formas de percepção conhecidas.
Lembro hoje o "Livro Tibetano dos Mortos" quando refere que o moribundo experimenta, além de uma espécie de "espelho" no qual toda a sua vida, todos os seus actos, bons ou maus, são reflectidos para serem vistos tanto por ele, como pelos seres que estão a julgá-lo. Nesta situação, não pode haver distorções, pois é impossível mentir sobre a sua própria vida.
Que me seja permitdo comentar esta ideia, remetendo este comentário para a primeira pessoa. O espelho poderá estar referido em sentido figurado, porque a realidade experimentada no meu caso contém algumas analogias. O meu "eu" tornou-se palco passivo dum desfiar de acontecimentos ( os tais actos ), que me interiorizaram com características determinadas: eles sucederam-se, uns a seguir aos outros, sem qualquer controlo da minha parte; eles chegavam já perfeitamente julgados, num julgamento que nunca foi posto em causa, porque era totalmente aceite, como se eu tivesse previamente participado desse "julgamento"; esses acontecimentos vinham impregnados de uma carga positiva ou negativa ( como se se tratassem de uma boa acção ou uma má acção...); eles provocavam, quando surgiam, um estado emocional ao nível do sentimento mais profundo ( uma alegria, uma angústia, um bem-estar insuportável ), mas completamente diferente das emoções humanas que conhecemos; esse "desfiar" prolongou-se como as cenas dum filme, umas a seguir às outras, sem que eu próprio tivesse a noção do que faltava, em termos quantitativos ou qualitativos; eu não tive qualquer intervenção, quer ao nível da aceitação, da crítica ou da rejeição - tudo ( e eu não recordo as cenas perfeitamente concretas e enquadradas na minha vida passada ), tudo me era familiar, pacificamente aceite e divinamente "ajuizado".
As analogias com o texto do Livro Tibetano são algumas, mas nunca "senti" a ideia de estar a ser julgado "por outros seres". A confrontação de todos os factos "deu-se", contudo, perante a sua constatação pura e simples.
Meses depois de tudo ter acontecido, e depois de pôr "ordem" nas minhas ideias, as "coisas" parecem cada vez mais claras. Eu não fui julgado "por toda a minha vida terrena", desde a infância até à "velhice". Não percebi qualquer sequência nas diversas cenas apresentadas, nem essas cenas eram cenas concretas, lembradas, catalogadas ou coloridamente acompanhadas pela vista ou qualquer outro sentido. Eram factos "que me diziam respeito", que eu aceitava como meus, sem neles pôr ( por qualquer instante ) qualquer dúvida ou desacordo; eles vinham uns a seguir aos outros, provocando-me um misto de receio e ansiedade, por desconhecer o tipo de reacção que iriam provocar; eles desencadeavam ( ao nível da mente ou do "espírito" ) um estado emocional estremamente profundo - não encontro equiparação ao que humanamente conheço, quer o estado de paz plena, quer o estado de dôr e angústia insuportável; da minha parte, "mentalmente consciente", eu não possuía qualquer controlo. Julgo que estava despojado de qualquer tipo de defesa. Fora-me retirado o sentido de "pensar" em duvidar, em não aceitar, em pedir para parar, em pôr em causa qualquer pormenor, em gritar, em chorar, em implorar ou fugir. No meu cérebro ou na minha mente não existia esse "poder", que qualquer ser humano possui: O DE PENSAR em defender-se. Eu era um "eu", desprovido de qualquer ideia de defesa. Era um "eu" sem um cérebro ao qual recorrer. Não tinha mãos e pés para me movimentar, nem "ganas" para protestar ou fugir de tudo aquilo. O meu "eu" era um "eu" composto unicamente por um espírito, desprovido de poder mental, ali postado para "receber" a passagem inevitável dum conjunto de acções, carregadas "do bem e do mal", umas compridas outras mais curtas, que provocavam ( na sua passagem ) uma reacção de paz ou de dôr.
À luz da fé e da crença divinas, posso afirmar que o bem e o mal estavam ali, posso afirmar que o bem provoca uma paz divinal e que o mal provoca a dôr angustiante mais insuportável que a imaginação possa alguma vez idealizar.
Posso afirmar que negar a existência de Deus é a tolice mais insolente que o homem pode inventar!
A minha experiência foi diferente de tudo aquilo que li, porque foi dividida em duas partes completamente distintas e completamente separadas no espaço e no tempo.
Concordo em absoluto que, após a morte, a alma entre numa "vertigem" e se encontre num vácuo - não um vácuo físico, mas um vácuo sujeito aos seus próprios limites e onde a consciência ainda existe.
E estou a falar da morte, como elemento comparativo, já que não poderei afirmar que "morri", ou que estive perto da morte, ou que estive "para além" da vida terrena, ou que estive noutro estágio qualquer. Não poderei afirmar nada disto, à luz da medicina actual ou dos conhecimentos actuais, já que o médico-cirurgião que me "operou" não sabe explicar o que me terá acontecido. Não sabe, nem percebe exactamente o que se passou. Na sua vida de médico, este foi um caso único, sem uma explicação exacta. Ainda hoje recordamos o caso e eu sinto que ele procura minimizar a questão, com explicações como "uma determinada reacção" ao produto anestésico ministrado na altura.
Mas para mim foi uma experiência perfeitamente indiscutível, longe da linguagem humana e das formas de percepção conhecidas.
Lembro hoje o "Livro Tibetano dos Mortos" quando refere que o moribundo experimenta, além de uma espécie de "espelho" no qual toda a sua vida, todos os seus actos, bons ou maus, são reflectidos para serem vistos tanto por ele, como pelos seres que estão a julgá-lo. Nesta situação, não pode haver distorções, pois é impossível mentir sobre a sua própria vida.
Que me seja permitdo comentar esta ideia, remetendo este comentário para a primeira pessoa. O espelho poderá estar referido em sentido figurado, porque a realidade experimentada no meu caso contém algumas analogias. O meu "eu" tornou-se palco passivo dum desfiar de acontecimentos ( os tais actos ), que me interiorizaram com características determinadas: eles sucederam-se, uns a seguir aos outros, sem qualquer controlo da minha parte; eles chegavam já perfeitamente julgados, num julgamento que nunca foi posto em causa, porque era totalmente aceite, como se eu tivesse previamente participado desse "julgamento"; esses acontecimentos vinham impregnados de uma carga positiva ou negativa ( como se se tratassem de uma boa acção ou uma má acção...); eles provocavam, quando surgiam, um estado emocional ao nível do sentimento mais profundo ( uma alegria, uma angústia, um bem-estar insuportável ), mas completamente diferente das emoções humanas que conhecemos; esse "desfiar" prolongou-se como as cenas dum filme, umas a seguir às outras, sem que eu próprio tivesse a noção do que faltava, em termos quantitativos ou qualitativos; eu não tive qualquer intervenção, quer ao nível da aceitação, da crítica ou da rejeição - tudo ( e eu não recordo as cenas perfeitamente concretas e enquadradas na minha vida passada ), tudo me era familiar, pacificamente aceite e divinamente "ajuizado".
As analogias com o texto do Livro Tibetano são algumas, mas nunca "senti" a ideia de estar a ser julgado "por outros seres". A confrontação de todos os factos "deu-se", contudo, perante a sua constatação pura e simples.
Meses depois de tudo ter acontecido, e depois de pôr "ordem" nas minhas ideias, as "coisas" parecem cada vez mais claras. Eu não fui julgado "por toda a minha vida terrena", desde a infância até à "velhice". Não percebi qualquer sequência nas diversas cenas apresentadas, nem essas cenas eram cenas concretas, lembradas, catalogadas ou coloridamente acompanhadas pela vista ou qualquer outro sentido. Eram factos "que me diziam respeito", que eu aceitava como meus, sem neles pôr ( por qualquer instante ) qualquer dúvida ou desacordo; eles vinham uns a seguir aos outros, provocando-me um misto de receio e ansiedade, por desconhecer o tipo de reacção que iriam provocar; eles desencadeavam ( ao nível da mente ou do "espírito" ) um estado emocional estremamente profundo - não encontro equiparação ao que humanamente conheço, quer o estado de paz plena, quer o estado de dôr e angústia insuportável; da minha parte, "mentalmente consciente", eu não possuía qualquer controlo. Julgo que estava despojado de qualquer tipo de defesa. Fora-me retirado o sentido de "pensar" em duvidar, em não aceitar, em pedir para parar, em pôr em causa qualquer pormenor, em gritar, em chorar, em implorar ou fugir. No meu cérebro ou na minha mente não existia esse "poder", que qualquer ser humano possui: O DE PENSAR em defender-se. Eu era um "eu", desprovido de qualquer ideia de defesa. Era um "eu" sem um cérebro ao qual recorrer. Não tinha mãos e pés para me movimentar, nem "ganas" para protestar ou fugir de tudo aquilo. O meu "eu" era um "eu" composto unicamente por um espírito, desprovido de poder mental, ali postado para "receber" a passagem inevitável dum conjunto de acções, carregadas "do bem e do mal", umas compridas outras mais curtas, que provocavam ( na sua passagem ) uma reacção de paz ou de dôr.
À luz da fé e da crença divinas, posso afirmar que o bem e o mal estavam ali, posso afirmar que o bem provoca uma paz divinal e que o mal provoca a dôr angustiante mais insuportável que a imaginação possa alguma vez idealizar.
Posso afirmar que negar a existência de Deus é a tolice mais insolente que o homem pode inventar!
12 Comentários:
A morte continua a ser um mistério para todos nós. A tua experiência é única e ainda bem que retiraste dela toda a tua certeza da existência de Deus. Que bom ter deixado o teu testemunho ! "Não te envergonhas de mim e não me envergonharei de ti a frente do Pai" disse Jésus.
Beijinhos verdinhos
Gostei de te ler, Amaral. Beijinhos.
Uma experiência que não posso contestar...
Beijito.
...já escrevi e apaguei não sei quantas vezes. As palavras não me saiem. Talvez porque não sejam necessárias.
Namasté!
Beijos meus
Existe um universo espiritual, e tu tives-te em contato com esse universo. Como ou porquê, não tenho a reposta, mas algo dentro de ti mudou...
Talvez tenha sido esse o motivo.
Nada acontece por acaso!
Em vez de este teu cantinho chegar ao fim, porque não crias um começo, quem sabe num outro blog se assim o desejares?
A passagem por aqui é importante para muitas pessoas, pensa nisso!
(com carinho... :))
Bj e Fica Bem!!
Olá Amaral
EStive a ler todos os postes relacionados e estou sem palavras.
desculpa
gostei muito de ler, amaral. aprendo sempre coisas novas consigo que me fazem bem à alma. beijinho grande.
Acabei de ler os 3 posta, com atenção e respeito, sentindo a verdade da cada palavra e tentando procurar os porquês.
Sabes o que concluí? Que todo o sentido estarã condensado nas palavras que aqui tens deixado.
O objectivo de seres um mensageiro de algo qe está bem diante de nossos olhos, mas que tapámos com um opaco véu e o caminho é reaprendermos a religar-nos e a anular o véu que criamos. mas como o criamos os mensageiros são necessários.
meu amigo, creio que és um deles.
Bem hajas
Fraterno abraço
Li os três últimos posts e queria agradecer essa partilha tão profunda. Nunca fui operada, nunca desmaiei, nunca parti membros... só levei anestesia no dentista...
Gosto muito destas histórias verídicas. Inspiram-me.
Deus é para mim esse "todo" de que falas. Não só faz parte da minha vida, como "é" a minha vida.
As melhoras.
:)
Abraço. És uma pessoa muito especial.
E cheguei aqui...
É realmente indescritivel o que se sente quando "vaguemos" por aí...
9 dias o meu "eu" vagueou por sitios indescritiveis também quando tinha 32 anos...e a única coisa que te posso dizer , que me recordo...é que me sentia livre...uma paz arrasadora...não me apetecia "voltar"...
Amaral...
Grata por esta tua partilha que sei de antemão ser muito pessoal e por isso...muito "valiosa" para ti...
Um beijo...no teu coração
(*)
sentei-me aqui à sua frente Amaral
sei que está desse lado, do lado de lá deste ecrã, é o que nos separa neste momento
li as partilhas que ainda não tina lido
primeiro assustada, não com o testemunho, mas porque senti a partida...
depois veio o caminhar acelerado nas suas palavras, lias sofregamente. voltei a ler uma duas vezes até sentir que não havia partida, mas partilha, uma partilha maravilhara e tão pessoal
acredito na vida para além desta que tenho aqui, acredito que há Deus
podia expor aqui o que se passou comigo, mas isso iria dar um comentário que mais parecia um post
li-te e senti-te tão perto, é sempre assim que te sinto, com força, com determinação, como um mensageiro
não quero que partas, não faças isso, é um simples pedido de alguém que mesmo nada dizendo passa por aqui e te lê. acredita que sou presença meu querido amigo Amaral
não me faças isso!
ler-te e estar aqui é um prazer, é aprender!
abraço-te com o mesmo carinho de sempre, com a minha amizade
beijinhos Amaral
lena
Nunca duvidei, desde que me conheço e só por isso ele existe.:)
Bjo
Amaral
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