Lisboa,

quinta-feira, abril 10, 2008

olhos nos olhos - parte 6


Deixaram-me só.
Os minutos tornaram-se intermináveis.
Tudo era lento, muito lento de resolver. A força do querer foi-se definindo, pouco a pouco. A ânsia de liberdade sobrepunha-se a todo um processo pesado pesado e complexo que teimava em arrastar-se. O tempo era, cada vez mais, o actor principal. No momentos mais lúcidos, distinguia perfeitamente, ofuscando as minhas normais capacidades humanas, um poder extasiante e belo. Sentado naquela marquesa, EU TINHA A CERTEZA que curaria um doente, se lhe tocasse com um dedo! Era uma sensação tão natural e bela, tão profunda e verdadeira, que não provocava qualquer estímulo de prazer ou vaidade. Simplesmente, eu sentia que possuía o dom de curar! Bastar-me-ia tocar o doente...

Mas eram momentos lúcidos mais ou menos fugidios. Embora repetitivos. Eles alternavam com outros carregados de extrema violência. Uma violência onde a razão e o raciocínio não existiam, e onde tudo se resumia a uma mistura de angústia e desespero.
"Dentro de 5 minutos preciso de estar no quarto! Levem-me p'ra lá!"
Estas duas frases fazem parte do vocabulário estranho com que presenteei os presentes, confusos e atónitos, perante aquilo a que assistiam. Nada era coerente para eles. Mas todos eram unânimes em pensar que eu havia enlouquecido. A determinada altura, tudo o que era auxílio médico deixou de ser essencial. O facto e a determinação de "chegar ao quarto" tomou uma dimensão circunstancial, tal como os outros testes passados. E o medo acompanhava essa necessidade, num todo absoluto e indissociável.
"Depressa! Já não vou chegar a tempo! Depressa!"
Na verdade, verifico hoje que o TEMPO foi factor caracteristicamente forte em toda a minha experiência. Profundamente incontrolado e desgastante, fortemente dominante e inatingível. A percepção do meu domínio psíquico estava para lá desse Tempo, e a distância entre os dois extremos sempre se apresentou morbidamente fora desse domínio.
O cansaço estava em todos os meus gestos, mas o medo de fechar os olhos sobrepunha-se a tudo o resto...

"Senhor, dai-me o meu pequenino lugar no Vosso maravilhoso universo."

...................................................

Chegou ao fim este meu testemunho!
Vale o que vale, dentro do contexto em que aconteceu!
Hoje, sei mais do que sabia então!
Li muito e procurei documentar-me para "entender" o que se havia passado.
O conteúdo deste blogue, nestes três anos da sua existência, contém as respostas! Quase todas! Folheando as suas páginas, progressivamente, encontraremos os porquês!

Mas este "laramablog" não vai acabar assim!
Mais umas palavras... e um derradeiro poema talvez sejam o melhor abraço final...


12 Comentários:

At abril 10, 2008 5:10 da tarde, Blogger Jonice diz...

Então, por ora fica meu abraço pelo final de teu testemunho partilhado. Que boa sorte a minha ter andado por aqui nestes anos, Amaral!

Beijinhos

 
At abril 11, 2008 5:14 da manhã, Blogger lua prateada diz...

A felicidade é feita de pequenos nadas pequenos gestos de amor um beijo um sorriso,um olhar simpático ou um elogio sincero.Por isso aqui passei deixando tudo isso para teu fim de semana.
Beijinho prateado
SOL

 
At abril 11, 2008 1:22 da tarde, Blogger Encontros de Almas diz...

Não há nada que possa este sentimento mudar,não há nada que possa nos ajudar...
Prova dura na terra que nos foi dada a enfrentar...

Não diga mais nada.
Vá amor,continue sua caminhada, mesmo com os nossos corações ardendo de paixão, aprenderemos a conviver com a dor da separação.

Guarde contigo este tesouro, leve contigo o amor mais amigo, o sonho interrompido.
Quem sabe na eternidade poderemos nos reencontrar e livremente nos amar!

Quem Sabe...

 
At abril 11, 2008 2:56 da tarde, Blogger Secreta diz...

Bom mesmo seria se o blog simplesmente não terminasse...
Beijito.

 
At abril 11, 2008 5:22 da tarde, Blogger Cristina Paulo diz...

Olhos nos olhos da alma te digo Amaral, O B R I G A D A.
E não digo mais pois as almas não necessitam de palavras. Apenas da partilha de Luz.
Um beijo enorme

 
At abril 11, 2008 5:23 da tarde, Blogger tb diz...

Não há despedidas porque a eternidade de nós é uma constante da vida :)
Fica o meu abraço pela partilha, embora eu já tivesse lido este grande e arrojado testemunho teu. Reli e voltei a gostar.
Até sempre aqui ou noutro mundo qualquer e obrigada por cada momento que me proporcionaste e cada palvra que me deixaste no meu espaço também. Ficará a marca muito nítica da ausência se ela se concretizar. Mas a liberdade de escolha é, também ela, uma moeda de duas faces.
beijinho

 
At abril 13, 2008 11:28 da manhã, Blogger Paula Raposo diz...

Fico muito triste por não te poder ler, por não poder aprender mais coisas contigo. Enfim. Não tenho palavras, desta vez. Beijos.

 
At abril 13, 2008 10:56 da tarde, Blogger Um Momento diz...

Amaral...
Muito obrigado por esta partilha ...
Sorvo cada palavra... cada sentir...
E... estou sem saber o que dizer...
apenas que feches os olhos agora e sem receios ...e sintas este meu abraço agradecido por tudo...
Todos os momentos em que de alguma forma deste mais vida ao meu ser...

Muito Obrigado Amaral...
Recebe um beijo de quem muito te estima e respeita

Mi*

(*)

 
At abril 22, 2008 6:13 da tarde, Blogger Cláudia diz...

Hoje senti que era a altura certa para vir ler-te olhos nos olhos.É de uma autênticidade tocante, e de extrema importância para todos nós.Cada um de nós encerra muitos mistérios, tesouros ocultos, suspiros profundos, sussurros secretos. Sempre admirei a tua generosidade de Ser.A forma bela com que sempre nos presenteaste, a transparência da tua alma.Acredito em cada palavra escrita neste blogue, assim como nesta incrivél experiência pela qual passaste.Esta viagem interior, a locais que poucos alcançam em vida.Tão humilde o teu simples pedido de reforma, o facto de teres escolhido voltar na mesma idade.Quando poderias ter pedido QUALQUER COISA, quando te foi dado a escolher TUDO! Esses teus simples pedidos, mostram só por si, a maravilhosa pessoa que és.Com toda a simplicidade do mundo...OBRIGADA!!!!!!

 
At abril 25, 2008 10:51 da tarde, Blogger Conceição Paulino diz...

meu amigo Amaral, só hoje e agora aqui voltei e acabei de ler teu testemunho. falatava-e ler o 6º. Lido. Apreendido. E a ele voltarei - bem como as outros - pois há muito no metatexto que se deve ler e deixar que nos penetre, como por osmose, pela pele, pelos olhos, e entranhar-se na alma.
Nem imaginas como percebo do que falas - experiências diversas, mas tão próximas.
só que aminha "escada" tem menos degraus do k a tua. Ainda não consegui acrescentar-lhe mais...mas a seu tempo...
Estejas onde estiveres sei k continuarás a emitir LUZ.
Beijo-te com uma amizade feita de respeito e fraternidade. Até sempre, ou...até já.

 
At abril 28, 2008 6:50 da tarde, Blogger MIMO-TE diz...

E como se faz quando já se sente tantas saudades, querido Amaral?

Beijinho
de mim

 
At maio 29, 2008 12:10 da tarde, Anonymous Anónimo diz...

Cheguei tarde...que pena!!!
Só hoje visitei este blog e gostei muito do que li, mas, o tempo por vezes não é lento e atrasamo-nos. Como lamento não ter chegado a tempo!!!

 

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