Lisboa,

segunda-feira, março 08, 2010

em cada mulher


HÁ UM POUCO DE MARILYN MONROE EM CADA MULHER
Não importa a idade, o estatuto ou a profissão, cada mulher é no seu íntimo uma diva, linda e assustada. É ao mesmo tempo sedutora, ingénua, misteriosa e perigosa. Com uma mão afaga, com a outra prende, e todo o seu mistério de criatura bela e enigmática se revela num lampejo, num jeito de olhar, tenha essa mulher 8 ou 80 anos.

As mulheres nascem conhecedoras do seu destino. Apenas esperam crescer para o consumar. E quando idosas, já o consumaram, reservam a satisfação de o repetir vezes sem conta, cristalizando o tempo na cápsula da sua imaginação, onde a vida não se escoa, e de onde regem os factos, do passsado e do futuro como se não houvesse hoje.

Talvez por isso sejam rigorosas. O Universo não admite o erro. Nenhuma mulher pode errar. Todos os seus actos são consequentes, o mais pequeno deslize alcança proporções épicas no futuro, quanto mais distante, pior!

Por isso cada gesto é medido e pesado. Generoso e tépido se fôr um afago, breve e seco se fôr uma censura. Sensual e lânguido se fôr de desejo, ríspido e agreste se fôr de medo.

As mulheres e o medo! - É pano para mangas.
As mulheres não têm medo, dominam muito bem as trevas. Vêem com os sentidos do corpo e do espírito. Se soltam gritinhos, é a fingir para atrair para junto de si os homens antes que eles - eles sim - se percam na escuridão - eles acorrem! Valorosos e bravos, matam ratos à vassourada, afugentam insectos voadores brandindo imaginárias espadas... Como Dom Quixote e Dulcineia, ele louco, alucinado, ela recatada tece a teia.

É aqui que entra o drama. Elas gostam de drama - são divas - sabem muito bem desmaiar em cena. Nunca caem desamparadas. Desfalecem apenas quando o galã está a uma distância segura, e qualquer pretexto é bom para o acto.
No acto de sedução, dentro de uma névoa de pó de arroz e perfume, o olhar aprofundado pelos cílios artificiais e a boca apetitosa como uma groselha sumarenta que promete manchas de carmim na doçura do leito, há uma onça, ávida, selvagem, indomada, sem dó da presa... e há tanta presa...
É das suas presas que as mulheres falam entre si e riem-se. Riem-se da perseguição, de como a presa corre e cai e volta a levantar-se para cair mais à frente ferida de morte, que o amor é um veneno viperino ministrado em pequenas doses para atordoar a presa e saciar a caçadora.

Quando já tiver devorado todas as presas, desfalecido em inúmeros dramas, rido até às lágrimas na sua divina comédia, e na sua imaginação restar apenas o passado, porque o futuro já não lhe pertence, a diva retira-se discreta e misteriosamente ressurge, regenerada, triunfante, esposa, mãe, terna amante. É nessa altura que termina a cena. Cai o pano e Marilyn desaparece.


(Teresa Baptista)
8 de Março, dia internacional da mulher

3 Comentários:

At março 08, 2010 10:38 da manhã, Blogger Paula Raposo diz...

Interessante este texto.
Beijos, Amaral.

 
At março 08, 2010 8:44 da tarde, Blogger Cláudia diz...

Maravilhosa escolha, como sempre meu querido Amaral.Por tudo o que contém, por relembrar a deslumbrante Marilyn Monroe, de quem eu sou fã incondicional, e principalmente por ter sido escrito por uma mulher.A tua sensibilidade toca-me fundo, e admiro-te muito por isso.Sabia que não deixarias este dia sem nos prestar homenagem, e apesar de andar numa roda-viva, não poderia deixar de te vir deixar o meu abraço, carinho e afecto...

 
At março 09, 2010 10:20 da tarde, Blogger lua prateada diz...

Amigo Amaral...
Belo texto, bem escrito e........muito nexo, o que por acaso já não se encontra muito, infelizmente.
Beijinho com luar e carinho para ti

SOL

 

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