Lisboa,

terça-feira, junho 07, 2011

talvez irrespondível


No seu ensejo de explicarem um fenómeno, os cientistas comportam-se, por vezes, como crianças numa longa viagem: em vez de usufruírem da paisagem que veem da janela, apenas se preocupam com a chegada ao destino. A pergunta "Já chegámos?" corresponde, no universo científico, à formulação "Já temos uma resposta?". Neste caso, a resposta é não. Ainda não temos respostas quanto àquilo que acontece quando morremos, mas estamos a tentar descobrir. A exploração das experiências de quase-morte aproximou-nos mais de uma resposta do que qualquer outra abordagem científica realizada no passado. Por outro lado, penso que o estudo das experiências de morte partilhada nos levará ainda mais longe, pois são fenómenos que acontecem a pessoas que não estão doentes, nem em situações que ameaçam a sua integridade física. Quando se trata de experiências de morte partilhada, deixa de ser possível especular-se que o fenómeno seja desencadeado pelos níveis elevados de dióxido de carbono, ou de drogas, ou mesmo pelo medo. Por outro lado, o facto de as pessoas que vivem experiências de morte partilhada se encontrarem lúcidas enquanto os acontecimentos têm lugar acresce validade aos seus testemunhos, e mais: o facto de muitas destas experiências serem vividas por mais do que uma pessoa para além do moribundo permitiu aos investigadores estabelecer uma comparação entre as experiências de quase-morte e as de morte partilhada, identificando semelhanças e outras particularidades. Este trabalho foi realizado em alguns dos casos apresentados neste livro, e os resultados são flagrantemente semelhantes. À medida que o procedimento for aplicado a mais casos, a abordagem dos investigadores poderá tornar-se mais metódica.
Em vez de procurar explicar a forma como o fabuloso fenómeno da experiência de morte partilhada se processa, prefiro, muitas vezes, observar o sentimento de assombro e a serenidade que as pessoas expressam quando me contam como viram e viveram ao acompanharem um ser amado a um lugar celestial. É precisamente no momento em que vejo essa expressão de plenitude que deixo de sentir a necessidade de procurar explicar essas experiências, e que passo a aceitá-las pelo que são. Por outras palavras, abro mão do meu ceticismo científico, deixo de perguntar se "já chegámos ao destino", e desfruto as paisagens que me trazem as pessoas que partilham os seus testemunhos, pois, na verdade, são elas que sabem realmente reconhecer se "já chegámos lá" e o que vemos à chegada. Segundo os relatos, é um lugar maravilhoso.

(Raymond Moody Jr in Instantes da Eternidade)

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