viajar no tempo
A existência de algo mais rápido que a luz não deveria acontecer de acordo com a teoria de Einstein que tornou famosa a equação «E=mc2». No entanto, o CERN anunciou na quinta-feira uma experiência que defende que os neutrinos são 60 nanossegundos mais rápidos que a luz.
«Se esta experiência se confirmar haverá uma enorme revolução na física, que trará graves consequências, porque há uma quantidade de coisas que achávamos que estavam descobertas e afinal não estão», disse à Lusa Gaspar Barreira, o cientista português que pertence ao Conselho do CERN.
Gaspar Barreira lembra que, caso haja a confirmação da descoberta, esta vai «mexer com o princípio da causalidade» e até permitir a hipótese de se poder «andar para trás no tempo e condicionar no futuro uma acção do passado».
«O mundo é muito mais complexo do que as nossas teorias científicas. Não fazemos a mais pequena ideia do que se passa com 95 por cento do universo», lembrou o também presidente do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP).
Gaspar Barreira estava na reunião mensal do CERN, em Genebra, quando soube os resultados da investigação, que só viriam a ser publicamente divulgados horas mais tarde.
«Há resultados que eu esperava, mas nunca este. Há poucas gerações que podem viver estas experiências», disse, emocionado, o cientista, que acredita que os próximos anos sejam de grandes descobertas, «tal como aconteceu na viragem do século passado».
O físico explicou a experiência agora revelada: «Foram disparados um feixe de neutrinos do acelerador de partículas situado perto de Genebra para um laboratório subterrâneo em Itália, a 730 quilómetros de distância». Resultado: o neutrino viajou 60 nanossegundos mais rápido que a velocidade da luz.
Os investigadores envolvidos neste projecto já pediram à comunidade científica internacional que confirmem ou excluam esta a experiência. «Isto não é uma descoberta, é um resultado experimental que é preciso confirmar», sublinhou Gaspar Barreira.
O professor José Pedro Mimoso, do Departamento de Física da Universidade de Lisboa, explicou o «pedido» dos investigadores: um nanossegundo é mil milhões de vezes mais pequeno que um segundo e por isso tem de se colocar a hipótese de haver um «erro sistémico» e, para isso, «basta que haja um detector que não está bem calibrado».
Os dois portugueses sublinham que estas descobertas não põem em causa nem destroem a teoria de Einsten. Caso se confirme, será uma informação adicional à teoria. «Em ciência não se deita por terra descobertas anteriores», lembrou Gaspar Barreiros.
E como é que a comunidade científica está a viver o momento? «Há três sentimentos: a perplexidade e o cepticismo, porque a teoria de Einsten já foi muitas vezes confirmada, mas também a excitação perante algo inesperado», resumiu José pedro Mimoso.
Por enquanto, a velocidade da luz - 299.792 quilómetros por segundo - continua a ser considerada o limite de velocidade cósmica.
(TVI24 - 23- 9- 2011 17:21)