CARLOS PAIÃO: HÁ VIDA DEPOIS DA MORTE
A frase pertence a Mário Martins que em 1978 descobriu Carlos Paião, para muitos um dos melhores compositores portugueses da segunda metade do século XX, o homem do "Play-Back", das "Trocas e Baldrocas", do "Pó de Arroz" e dos "Versos de Amor", capaz, como (muito) poucos, de escrever, num dia uma canção para Herman José e no seguinte uma outra para Amália Rodrigues, sempre com o mesmo invulgar sentido melódico e de domínio da língua portuguesa.
Carlos Manuel de Marques Paião era natural de Coimbra, cidade onde nasceu no dia 1 de Novembro de 1957. Do seu percurso profissional não consta qualquer nota de música até 1980, ano em que troca, em definitivo, a licenciatura em Medicina pela escola da canção. A partir daí dedica-se a uma panóplia de actividades várias sob o mesmo denominador comum: a música. É compositor, intérprete, instrumentista e produtor e ainda assina os arranjos para as suas próprias melodias. Mas é como letrista que o seu nome ganha dimensão maior. Do fado à canção infantil, da balada de amor à composição burlesca escreveu de tudo para todos. Amália, Pedro Couceiro, Joel Branco ou Herman José são alguns dos artistas a beneficiar do talento do poeta. A estreia, recorde-se, acontece em 1978, no Festival de Ílhavo, de onde regressa com dois prémios, nomeadamente, o de melhor intérprete. A profissionalização dá-se em 1980 e o reconhecimento, no ano seguinte, com o “Play-Back” que levou Portugal à Eurovisão. “Algarismos” é o primeiro álbum de originais.
Carlos Paião desapareceu num trágico acidente de viação, aos 31 anos, ironicamente esmagado pela aparelhagem e pelas colunas de som que transportava no carro, em 26 de Agosto de 1988, um dia depois do não menos trágico incêndio do Chiado.
Cegonha
Adeus cegonha, gosto de ti.
Há quanto tempo te não via por aí
Nem tens ninhos nos telhados
Nem as asas pelo céu
Adeus cegonha que aconteceu.
Ainda me lembro, de ouvir-te dizer.
Que tu de longe os bébés vinhas trazer
Mas os homens vão crescendo
E as cegonhas a morrer
Ainda me lembro, não pode ser.
Adeus cegonha, tu vais voar.
E a gente sonha, é bom sonhar.
No teu destino por nós traçado
Leva o menino, que é pequenino, toma cuidado. (bis)
Adeus cegonha, adeus lembrança.
A gente sonha, como criança.
Faz outro ninho, em local distante.
Vai de mansinho, mas no caminho, diz-me um segredo.
Adeus cegonha...
Lá rá la rá rá....