- Não vejo vocês nada interessados, meninos! Tá tudo distraído e a pensar em sair daqui. Ninguém quer saber Quem é Deus?... Vamos então brincar um jogo... Bia, vais imaginar uma bola.
- Uma bola de futebol?
- Não, Gui. Imaginem somente uma bola. Uma bola enorme. Uma bola tão grande que poderia ter tudo lá dentro.
- Como o céu?
- Uma coisa diferente. Supõe que tu mesmo estás dentro dessa bola. Isso! Estás lá dentro, como se fosses o centro dela e onde pudesses "andar" e não conseguisses chegar ao fim.
- E lá dentro há casas e estradas?
- Não, imagina apenas que estás dentro dessa bola e à tua volta há só uma luz. Uma luz brilhante que te envolve, tão bonita e tão doce que apetece brincar com ela, agarrá-la e até comê-la...
- Comer a luz?
- Tens de supor que é a coisa mais bela e preciosa que possas imaginar...
- E lá dentro não há mais nada?
- Por agora, não. Apenas luz. Consegues vê-la? É como se tu fosses essa luz...
- Só luz?... Nem um brinquedo?
- Vais esquecer esses brinquedos que conheces e vais imaginar somente essa bola. Estás lá dentro, e o teu corpo é essa luz, olhas para a direita e para a esquerda, como se estivesses a flutuar, e só tens essa luz que parece não ter fim... Mas é a tal luz doce e quente que te faz bem e te deixa tão contente, que não precisas de mais nada...
- Estou lá dentro da bola, só com luz à minha volta?
- Sim, sentes a luz, vês a luz mesmo de olhos fechados, caminhas na luz, rebolas e saltas dentro da luz, brincas com a luz...
- E não está lá mais ninguém?
- Mais ninguém, por enquanto. Tens os olhos fechados, Bia? Sentes-te bem, nessa luz?
- Sim.
- E tu, Gui, também te sentes bem?... Ok. Vamos pensar que vocês são Deus! Dentro dessa luz, vocês são essa luz e são capazes de andar, de voar, de brincar, de terem tudo o que quiserem... porque sabem tudo e não precisam de aprender nada.
- Se eu quiser, posso ter uma moto?
- Podes, sim, podes tudo o que desejares, porque és Deus e Deus tudo pode e tudo faz!
- Então, eu quero ser Deus!
- Já és!... Agora, repara: Com o poder que tinha, Deus decidiu "ter" muitas coisas. Então, pegou num bocadinho de luz do seu corpo e soprou, partindo-o em mil pedaços. Dentro daquela bola de luz, apareceram montes de luzinhas presas umas às outras, a girarem, a brincarem, a brilharem umas para as outras.
- Essas luzinhas todas, posso tocar nelas?
- Podes! Toca numa delas. É como se tocasses no teu dedo. Toca outra. É o teu nariz. Tocas em cada uma delas e sentes, como se estivesses a tocar na tua barriga ou na tua cara.
- E quem sou eu?
- És Deus, já te disse! Tu és essa bola, que fizeste girar e que nunca mais pára.
- Eu quero montar um cavalinho.
- E vais montá-lo, Gui. Estás a imaginar todas essas luzinhas, dentro dessa bola de luz, a cintilar e a brilhar?... São as estrelas e os planetas, são os milhões de astros que abundam o universo, tudo o que se vê e não se vê... Isso tudo é o Corpo de Deus.
- E o que está fora da bola?
- Nada, Bia. Não há nada fora da bola. Tudo o que existe está na bola. Só existe a bola. Dentro da bola, está tudo! Estão todos os astros do céu... e está muito mais!
- Faltam os animais e as plantas.
- Bem observado, Bia. Faltava isso tudo, mas Deus quis também isso e criou essas coisas todas! Tirou um bocadinho do Seu corpo de luz e fez da mesma forma. Criou as plantas e os peixes e os animais e as pessoas, duma forma tão variada que eram milhões e milhões...
- E couberam todos na bola?
- É verdade, Gui. Couberam todos. Sabes porquê? Porque eram bocadinhos da mesma bola e todos estavam juntinhos e presos uns aos outros, e a bola não precisou de ser maior.
- Era uma grande bola...
- Pois é. É uma grande bola. Tão grande que não se vê nem o princípio nem o fim.
- E a bola não cai?
- Não cai, porque não tem onde cair. Só existe uma bola e dentro da bola está Tudo.
- Eu estou dentro da bola?
- Estás lá, sim.
- E a Bia, também? E a mãe e o pai?
- Todos estão lá dentro.
- Tu, Gui, és uma dessas luzinhas. O pai, a mãe, os teus amigos, o cavalo que montas, a água que bebes, as árvores do jardim, isso tudo são as outras luzinhas. E todas estão presas umas às outras. E todas estão presas à bola, todas fazem parte da bola. Quando tocas uma delas, sentes que estás a tocar em ti. Se fizeres mal a uma delas estás a fazer mal a ti, porque estás ligado a ela e ela é um bocado de ti, também.
- E o mar e as montanhas?
- São também luzinhas de luz que Deus separou do Seu corpo, para Se contemplar, como se fosse um espelho.
- Deus é isso tudo?
- Sim, Deus é Isso Tudo!... Outro dia conto-vos mais.
- Ainda há mais?
- Ainda agora começámos. Isto foi só o princípio...