Lisboa,

terça-feira, abril 15, 2008

um eterno momento

A Vida continua!
Mas continua mesmo!
Contigo, sempre! Comigo, também! Com Todos os que participam na Criação. De um modo simples, de qualquer um outro modo especial.
A Vida mostrará o Seu Rosto ao Eu de cada um, a um determinado nível de existência. Esta permanência física é apenas uma forma de existirmos. Confiemos nAquilo que, por detrás da nossa capacidade de raciocínio, conduz o Processo da Criação.




Cruzei teus braços nos meus
fiz dos traços um instante
tremi na pele o desejo
soprado louco e constante

Tocámos um ponto no corpo
moldámos um génio de amor
soprámos a pena na tela
num arco-iris de côr

Cruzei teus braços nos meus
fiz dos teus lábios um lago
vi neles um trago a mel
senti-lhes um doce afago

Voltámos o mundo do avesso
beijámos vales e fontes
fizémos do amor um oásis
sem tempos nem horizontes

Cruzei teus braços nos meus
aninhei-me no teu ninho
fiz dele um leito de vida
feito de amor e carinho




Desejo a todos os que tiveram a paciência de me ler ao longo de mais de três anos, um eterno momento de felicidade nas vossas vidas terrenas e que, cedo, entendam no vosso coração o porquê da dádiva que foi experienciarem a Vida desta forma...
Na certeza de que o Deus do vosso entendimento falar-vos-à sempre na voz da vossa consciência!
OBRIGADO!!!
(Amaral Nascimento)

sábado, abril 12, 2008

antes do adeus


Nas derradeiras palavras, posso adiantar que tudo quanto ficara "acordado" se cumpriu.
Desde a reforma antecipada (a altura ideal...) até à "sujeição" daquela escolha sentimental que fizera (adiei-a durante anos, por acreditar naquilo que sentia...) - tudo acabou por acontecer, com a maior das naturalidades...

36 pessoas leram uma parte ou o todo deste testemunho.
A essas pessoas fico agradecido por terem acreditado nas minhas palavras.
Obrigado a:


Jonice
Eduardo Aleixo
Menina do Rio
Isabel-F.
Paula Raposo
Carla
Elsa
Brisa do Mar
Maria
Marta Ribeiro
Catarina Alves
Eli
Ana
Um Momento
Anónimo
Maria Clarinda
Ana Luar
Je Vois la Vie en Vert
Secreta
Siala ap Maeve
Piedade Araújo Sol
Alice
Eremita
Lena Maltez
tb
Paula Calixto
Fernanda & Poemas
aflordapele
Su
Laura
tulipa
Fanny
lua prateada
Mimo-te
Mary Fioratti
fadazul

A vida e a morte será um acto contínuo "de ser".
Acho que nunca deixaremos "de ser"!
Inclusivamente, depois desta vida, teremos a possibilidade de ESCOLHER aquilo que quisermos, continuando a evolução, com este ou aquele corpo, nestas ou noutras circunstâncias.


A morte é um enigma? É, sem dúvida! Podíamos e devíamos estar preparados para a receber. Porque ela faz parte daquilo que somos. Precisamos da "morte" para continuarmos "a ser"!
Porém, aquilo em que acreditamos, nesse instante especial, é importante para "lembrarmos" O QUE FAZER, O QUE PENSAR, O QUE SENTIR... Talvez a passagem para o "outro lado" fosse mais natural, se a nossa mente estivesse, serena e tranquilamente, certa de que A VIDA CONTINUA...
Essa "certeza" foi-nos retirada, ao longo dos séculos, por crenças e comportamentos que o homem foi inventando, perseguindo interesses atrás de interesses.

Quem somos?
Pelas razões que todos aceitamos, de uma maneira ou de outra, é no acto do nascimento para este mundo físico que esquecemos quem realmente somos.
E a verdade é que, com o desenrolar dos anos da nossa vida, vamos relembrando e descobrindo essa espantosa verdade.
Quem somos!
Aquilo que mais valorizamos em nós, os nossos pensamentos, tudo aquilo que sentimos, não nos foi dado pelo mundo físico.
De acordo com o satélite WMAP, 22% do universo será constituída por uma substância estranha e que foi chamada de matéria negra, invisível, com peso e que circunda as galáxias; e os outros 74% (a maior parte do universo) será constituída por uma forma de energia também desconhecida, a que chamam energia negra, a força que está a mover todo o universo.
Os restantes 4% é a matéria visível que vemos à nossa volta (incluindo as montanhas, os planetas, as estrelas e as galáxias). Destes 4%, somente 0,03% tem a forma de elementos pesados; o restante encontra-se na forma de hidrogénio e hélio...
O universo invisível terá de ser a consciência única, corpo e mente divinas, fonte que nos permite recolher e partilhar o conhecimento que "parece" sair das nossas mentes individualizadas.

"Há um hiato entre vidas que não conseguimos observar..." - diz Chopra.

Parece que sim! Há vários hiatos que não conseguimos lembrar.
O que pensámos e fizemos durante um desmaio? Não nos lembramos!
O que pensámos e sentimos durante uma noite de sono profundo? Sonhamos, não sonhamos, ou não lembramos...
O que está a acontecer com uma pessoa durante um estado de coma? Está ela a "ouvir"? A pensar? A sentir algo?...
O que foi que sentimos quando nos cortaram o cordão umbilical e começámos a respirar? Não lembramos!...
O que foi que "eu fui" antes de me conhecer tal como sou agora? Não sei!!!
Há, na verdade, um hiato entre as vidas que tivemos, que não conseguimos lembrar...
Agora e aqui!
Porque, a um outro nível de consciência, certamente esse conhecimento existe!



quinta-feira, abril 10, 2008

olhos nos olhos - parte 6


Deixaram-me só.
Os minutos tornaram-se intermináveis.
Tudo era lento, muito lento de resolver. A força do querer foi-se definindo, pouco a pouco. A ânsia de liberdade sobrepunha-se a todo um processo pesado pesado e complexo que teimava em arrastar-se. O tempo era, cada vez mais, o actor principal. No momentos mais lúcidos, distinguia perfeitamente, ofuscando as minhas normais capacidades humanas, um poder extasiante e belo. Sentado naquela marquesa, EU TINHA A CERTEZA que curaria um doente, se lhe tocasse com um dedo! Era uma sensação tão natural e bela, tão profunda e verdadeira, que não provocava qualquer estímulo de prazer ou vaidade. Simplesmente, eu sentia que possuía o dom de curar! Bastar-me-ia tocar o doente...

Mas eram momentos lúcidos mais ou menos fugidios. Embora repetitivos. Eles alternavam com outros carregados de extrema violência. Uma violência onde a razão e o raciocínio não existiam, e onde tudo se resumia a uma mistura de angústia e desespero.
"Dentro de 5 minutos preciso de estar no quarto! Levem-me p'ra lá!"
Estas duas frases fazem parte do vocabulário estranho com que presenteei os presentes, confusos e atónitos, perante aquilo a que assistiam. Nada era coerente para eles. Mas todos eram unânimes em pensar que eu havia enlouquecido. A determinada altura, tudo o que era auxílio médico deixou de ser essencial. O facto e a determinação de "chegar ao quarto" tomou uma dimensão circunstancial, tal como os outros testes passados. E o medo acompanhava essa necessidade, num todo absoluto e indissociável.
"Depressa! Já não vou chegar a tempo! Depressa!"
Na verdade, verifico hoje que o TEMPO foi factor caracteristicamente forte em toda a minha experiência. Profundamente incontrolado e desgastante, fortemente dominante e inatingível. A percepção do meu domínio psíquico estava para lá desse Tempo, e a distância entre os dois extremos sempre se apresentou morbidamente fora desse domínio.
O cansaço estava em todos os meus gestos, mas o medo de fechar os olhos sobrepunha-se a tudo o resto...

"Senhor, dai-me o meu pequenino lugar no Vosso maravilhoso universo."

...................................................

Chegou ao fim este meu testemunho!
Vale o que vale, dentro do contexto em que aconteceu!
Hoje, sei mais do que sabia então!
Li muito e procurei documentar-me para "entender" o que se havia passado.
O conteúdo deste blogue, nestes três anos da sua existência, contém as respostas! Quase todas! Folheando as suas páginas, progressivamente, encontraremos os porquês!

Mas este "laramablog" não vai acabar assim!
Mais umas palavras... e um derradeiro poema talvez sejam o melhor abraço final...


quarta-feira, abril 09, 2008

olhos nos olhos - parte 5


O regressar dum desmaio é, por regra, e para mim, um remoinho indesejável que nos sobe ao cérebro, acompanhado por um mal-estar decrescente, à medida que as coisas, pessoas e vozes se tornam audíveis e, pouco a pouco, percebíveis. Foi assim também por ocasião duma anestesia geral, e penso, por vezes, como será a "entrada" dum recém-nascido no mundo terreno, aquando da sua separação do leito materno.
Nascer para esta vida ou deixá-la definitivamente tem as suas analogias e os seus pontos comuns. Como dizem certos pensadores, é com o nascimento para este mundo que o pequenino ser humano perde a liberdade e o entendimento pleno e universal; partir desta vida é como regressar à fase original e ver abrir-se-lhe todo o conhecimento e poder espiritual calcado e adormecido, durante anos, num corpo terreno.
Quando, deitado na marquesa, comecei a entender que estava a recuperar dum desmaio, assaltou-me uma sofreguidão e uma ansiedade muito fortes, misturadas com o súbito receio de ir esquecer a experiência que acabara de viver. Então, toda a minha mente, toda a minha força interior canalizou os cinco sentidos para um propósito vital: NÃO ESQUECER!

Recordo perfeitamente a ânsia desmesurada que punha na frase repetida vezes sem conta, perante os olhares atónitos do médico e enfermeiras: "Eu não quero esquecer! Eu não quero esquecer!". Fechava as mãos com força, unia simultaneamente todos os meus sentidos, e repeti, repeti aquela frase, vezes sem conta.
Todas as cenas acabadas de "viver" estavam frescas, muito claras na minha memória, e todas as sensações permaneceram intactas nos momentos que se seguiram. As enfermeiras procuravam acalmar-me, sentaram-me na marquesa, e eu "verifiquei" que uma falsa-tontura me perturbava o equilíbrio. O médico-cirurgião apercebeu-se do facto, e iniciou uma série de perguntas pessoais, às quais eu fui respondendo, com um misto de ansiedade e satisfação. Porquê? Muito simples: a "tontura" que sentia estar a provocar-me o desequilíbrio mental evidenciou-se, a pouco e pouco, como um facto perturbador novo e intrinsecamente familiar. Uma força estranha dera início a um estranho "bailado", num "medir de forças" provocante e abertamente intencional. Responder acertadamente às perguntas do médico significavam os primeiros sintomas que a força "que me puxava" poderia ceder a qualquer momento.
"- Quer um pouco de água?" - tentou uma das enfermeiras.
Eu fiz que sim com a cabeça, mas interrompi-lhe o gesto de me colocar o copo entre os lábios. Quiz ser eu a fazê -lo! A primeira tentativa resultou em parte, mas logo as forças cederam, e eu mantive o copo seguro entre as mãos, com os braços caídos sobre as pernas. "Eu vou conseguir!..." prometia, com o resto da força interior que advinha da luta que travava com a "tontura" que me desafiava a posse plena do meu equilíbrio mental. O consciente balanceava entre a realidade visual das coisas que ansiava "agarrar" e uma agitação crepitante que prenunciava outra espécie de desmaio.

Na prática, a cena, agora relembrada, adquirira o lado caricato dum impasse falsamente comparável à recuperação banal dum desmaio. Mas naquele momento exacto eu tinha a certeza de uma coisa: "algo" me puxava "para lá", e eu deitava mão a tudo para "agarrar" o lado "de cá". Perder os sentidos, naquela altura, significava o regressar ao palco do sofrimento por que passara havia momentos. Manter-me acordado e consciente era uma necessidade extrema, por que tinha de lutar, com todas as minhas forças.
Eu agarrava as mãos das enfermeiras, como tábua de salvação e clamava ajuda para, em simultâneo, tentar desfazer os elos que me prendiam àquela "força invisível", mas a batalha tornou-se temporalmente prolongada.
E então, uma fase nova tomou forma diferente, durante aquela "falsa recuperação " do mero desmaio.
A consciência e a inconsciência fundiram-se factualmente e, soube depois, o médico-cirurgião apanhava o susto da sua vida... Da consciência à inconsciência distava uma fronteira, presa debilmente por um fio. Como se entre o "cá" e o "lá", eu andasse ao arbítrio dum mísero empurrão. Eu ia e vinha! Quando "ia", o tempo "dava" para inquirir sobre coisas como o Universo, a existência de Deus, o regressar à vida na Terra... Quando "voltava", assaltava-me o desejo enorme de me agarrar a tudo o que era palpável, num louco receio de voltar a reviver a experiência anterior.

Como podem factos contados com estas palavras merecer credibilidade? E que palavras ou adjectivos ou até parábolas ou elementos comparativos ajudariam a tornar mais racional situações que a razão relutantemente teima em não entender?
De novo esbarro com uma total falta de argumentos convincentes.
Pode a imaginação possuir arte e engenho para "encenar" na nossa mente artimanhas deste tipo? E pode um cérebro deixar-se "invadir" por "criações" tão pormenorizadas e ricas de conteúdo?



terça-feira, abril 08, 2008

olhos nos olhos - parte 4


Recordo que a minha experiência foi diferente de tudo aquilo que li até hoje, também porque foi dividida em duas partes distintas e separadas no espaço e no tempo.
A primeira parte foi experimentada aquando da perda de consciência, na altura em que a enfermeira, apressadamente, me media a tensão e chamava pelo cirurgião, solicitando ajuda.
Não é fácil falar nestas coisas e muito mais difícil é entendê-las. O que procuro reproduzir à luz da nossa razão e à luz dos elementos físicos que nos rodeiam e ainda à luz de como sentimos as nossas emoções do dia-a-dia - o que procuro transmitir por palavras rebuscadas no vocabulário que acumulei em toda a minha vida - é tarefa quase impossível. Não conheço os adjectivos próprios, não consigo definir e explicar aquilo que senti, não encontro nada que possa servir de comparação e que ajude, de qualquer maneira, a fazer-me entender convenientemente.
Falar de dôr, de sofrimento, de paz, de alegria, de angústia, de êxtase - é tão pouco e tão ridículo... Se a paz experimentada era uma coisa maravilhosa, já a dôr era a coisa mais terrível alguma vez idealizada: "só dava vontade querer morrer", mas morrer como, se "morto" já eu me encontrava?...
A verdade, porém, é que nem a este possível pensamento eu tivera acesso...

Rodo os ponteiros do relógio, e provoco uma viagem de regresso ao palco negro das sensações dolorosamente vividas.
Como se o "agora" fosse possível isolar, e trazê-lo de volta... Fecho a mente a tudo o que me rodeia, e deixo “falar” o subconsciente, com a sua linguagem carregada de irracionalidade.

Imagens loucas correm interligadas, em ritmo alucinante. Passivamente, sinto-me sem defesa, possuído por aquele turbilhão, onde a realidade se mistura com o inconsequente, mas sempre onde duas componentes se degladiam: o bom e o mau ou o bem e o mal. Uma luta titânica, onde não posso interferir, limitando-me a ser palco ocupado e indefeso, onde era confrontado friamente com bocados de vida, desordenados na distância, mas perfeitamente sequenciais no antagonismo daquilo que tinha sido bem feito ou mal feito.

Era um desfraldar das cenas da vida, primeiro a má, depois a boa, num contínuo envolvimento e aceitação.
Nada era possível fazer... Elas vinham em catadupa, sem que, pelo pensamento, passasse sequer uma vez a ideia de tentar fugir, alterar, reagir...
Nada se lhe assemelha.
Quase toca o interior do cérebro, onde tudo se submete àquela batalha de situações eternamente ligadas, sem um fim à vista, como se uma catástrofe cósmica se localizasse na mente, e ali decidisse fazer terreiro, sem qualquer hipótese de contestação.
As situações são por vezes concretas, outras vezes denunciam somente algo possuído de mal, que me possui e me inunda duma dôr estranhamente insuportável, violenta, interior; uma dôr que nada tem de física, sem igual para se lhe comparar; uma dôr mental, talvez; uma dôr atrozmente perturbadora; uma dôr que pesa toneladas e que dura uma eternidade; uma dôr que abate, que destrói, que mina tudo e tudo, que se implanta na mente como "algo" que é preciso expulsar, mas que ameaça eternizar-se. E depois, o alívio a chegar, a sobrepôr-se, a dominar, como a cena seguinte do filme que roda, apressado, turbulento, sempre interligado, sem um corte ou paragem para descansar.
No subconsciente desfilam imagens esmagadoras, algo pessoais, passivelmente aceites, passivelmente ajuizadas como boas ou más.
Tudo passado a um ritmo diabólico, sem um fim à vista, onde uma cena rotulada de má provoca a tal dôr estranhamente insuportável, e a seguir outra, esta sim possuída de bem, que alivia e faz sentir melhor; mas logo outra que é facilmente avaliada e faz voltar aquela sensação arripiante , e depois outra e outra, ora boa ora má, sempre em ritmo alucinante, sempre interligadas, onde o alívio se segue à dôr, ou a dôr se abate de novo, e ameaça eternizar-se, dando lugar a um medo profundo de não haver mais coisas boas, de tudo aquilo entrar num rodopio, num loop sem fim, num círculo vicioso.
Era o medo de ficar ali, sem hipóteses de libertação, ligado para sempre àquela submissão horrível de dôr e angústia.
Porque é dôr e é angústia, malparecida com aquela dôr no peito bem funda, que nada tem de física, malcomparada à "nossa" angústia por feitos passados. Esta angústia é sobrenatural, é sobrehumana. É dôr de outra dimensão, é espiritual - é dôr angustiante ou angústia dolorosa.

Mas este estranho momento teve, mesmo, o seu fim.
Terminou, tal como começara, dando lugar a uma sensação de extase, de bem-estar...
Chegara o momento de questionar.
Existia Deus?... Claro, só podia ser!...
O Universo, como era?...
A Vida, a Natureza?...
Tudo "vinha" como se "tudo" já soubesse! Apenas rememorava, tão naturalmente como se apenas existisse essa fórmula única...

O que estava para "acontecer" surgiu com a mesma "naturalidade". Sem palavras, sem ruídos nem murmúrios.
"Queres voltar?"
"Como queres voltar?"
"O que queres?"
"Com que forma?"
Tinha, no entanto, que fazer uma ESCOLHA! Ao nível sentimental e familiar, só "uma pessoa" poderia escolher: "Esta" ou "esta". Assim, sem mais nada! Simples, simples!...
"E o que vai acontecer com "esta" que vou deixar?"
"Não te preocupes. Vai ficar bem!"

Escolhi! Escolhi também o meu aspecto, aquele que tinha, então. Sem qualquer mudança. Voltar à idade de bebé não me agradou, porque iria esquecer "tudo"!
Pedi a reforma do trabalho onde estava.
Escolhi "contar" a experiência. Mas como?... Discursando? Escrevendo?...
"Tens a Internet..."

Nessa altura, ainda eu não conhecia o mundo da blogosfera...



domingo, abril 06, 2008

olhos nos olhos - parte 3

Li há pouco tempo que uma pessoa que passa por uma experiência deste tipo, não tem qualquer dúvida da sua realidade e da sua importância. A minha experiência não foi uma experiência-tipo de vida pós-morte, daquelas que muitos médicos-investigadores compilaram e estudaram. No meu caso, eu não me senti desprender do corpo e elevar-me acima do solo, e não contemplei "do lado de fora" o corpo estendido na marquesa. Eu não passei por um túnel escuro, não vi uma luz brilhar ao fundo desse túnel, nem "vi" pessoas à minha espera, prontas a acolher-me e a levarem-me consigo.
A minha experiência foi diferente de tudo aquilo que li, porque foi dividida em duas partes completamente distintas e completamente separadas no espaço e no tempo.
Concordo em absoluto que, após a morte, a alma entre numa "vertigem" e se encontre num vácuo - não um vácuo físico, mas um vácuo sujeito aos seus próprios limites e onde a consciência ainda existe.
E estou a falar da morte, como elemento comparativo, já que não poderei afirmar que "morri", ou que estive perto da morte, ou que estive "para além" da vida terrena, ou que estive noutro estágio qualquer. Não poderei afirmar nada disto, à luz da medicina actual ou dos conhecimentos actuais, já que o médico-cirurgião que me "operou" não sabe explicar o que me terá acontecido. Não sabe, nem percebe exactamente o que se passou. Na sua vida de médico, este foi um caso único, sem uma explicação exacta. Ainda hoje recordamos o caso e eu sinto que ele procura minimizar a questão, com explicações como "uma determinada reacção" ao produto anestésico ministrado na altura.
Mas para mim foi uma experiência perfeitamente indiscutível, longe da linguagem humana e das formas de percepção conhecidas.

Lembro hoje o "Livro Tibetano dos Mortos" quando refere que o moribundo experimenta, além de uma espécie de "espelho" no qual toda a sua vida, todos os seus actos, bons ou maus, são reflectidos para serem vistos tanto por ele, como pelos seres que estão a julgá-lo. Nesta situação, não pode haver distorções, pois é impossível mentir sobre a sua própria vida.
Que me seja permitdo comentar esta ideia, remetendo este comentário para a primeira pessoa. O espelho poderá estar referido em sentido figurado, porque a realidade experimentada no meu caso contém algumas analogias. O meu "eu" tornou-se palco passivo dum desfiar de acontecimentos ( os tais actos ), que me interiorizaram com características determinadas: eles sucederam-se, uns a seguir aos outros, sem qualquer controlo da minha parte; eles chegavam já perfeitamente julgados, num julgamento que nunca foi posto em causa, porque era totalmente aceite, como se eu tivesse previamente participado desse "julgamento"; esses acontecimentos vinham impregnados de uma carga positiva ou negativa ( como se se tratassem de uma boa acção ou uma má acção...); eles provocavam, quando surgiam, um estado emocional ao nível do sentimento mais profundo ( uma alegria, uma angústia, um bem-estar insuportável ), mas completamente diferente das emoções humanas que conhecemos; esse "desfiar" prolongou-se como as cenas dum filme, umas a seguir às outras, sem que eu próprio tivesse a noção do que faltava, em termos quantitativos ou qualitativos; eu não tive qualquer intervenção, quer ao nível da aceitação, da crítica ou da rejeição - tudo ( e eu não recordo as cenas perfeitamente concretas e enquadradas na minha vida passada ), tudo me era familiar, pacificamente aceite e divinamente "ajuizado".
As analogias com o texto do Livro Tibetano são algumas, mas nunca "senti" a ideia de estar a ser julgado "por outros seres". A confrontação de todos os factos "deu-se", contudo, perante a sua constatação pura e simples.

Meses depois de tudo ter acontecido, e depois de pôr "ordem" nas minhas ideias, as "coisas" parecem cada vez mais claras. Eu não fui julgado "por toda a minha vida terrena", desde a infância até à "velhice". Não percebi qualquer sequência nas diversas cenas apresentadas, nem essas cenas eram cenas concretas, lembradas, catalogadas ou coloridamente acompanhadas pela vista ou qualquer outro sentido. Eram factos "que me diziam respeito", que eu aceitava como meus, sem neles pôr ( por qualquer instante ) qualquer dúvida ou desacordo; eles vinham uns a seguir aos outros, provocando-me um misto de receio e ansiedade, por desconhecer o tipo de reacção que iriam provocar; eles desencadeavam ( ao nível da mente ou do "espírito" ) um estado emocional estremamente profundo - não encontro equiparação ao que humanamente conheço, quer o estado de paz plena, quer o estado de dôr e angústia insuportável; da minha parte, "mentalmente consciente", eu não possuía qualquer controlo. Julgo que estava despojado de qualquer tipo de defesa. Fora-me retirado o sentido de "pensar" em duvidar, em não aceitar, em pedir para parar, em pôr em causa qualquer pormenor, em gritar, em chorar, em implorar ou fugir. No meu cérebro ou na minha mente não existia esse "poder", que qualquer ser humano possui: O DE PENSAR em defender-se. Eu era um "eu", desprovido de qualquer ideia de defesa. Era um "eu" sem um cérebro ao qual recorrer. Não tinha mãos e pés para me movimentar, nem "ganas" para protestar ou fugir de tudo aquilo. O meu "eu" era um "eu" composto unicamente por um espírito, desprovido de poder mental, ali postado para "receber" a passagem inevitável dum conjunto de acções, carregadas "do bem e do mal", umas compridas outras mais curtas, que provocavam ( na sua passagem ) uma reacção de paz ou de dôr.

À luz da fé e da crença divinas, posso afirmar que o bem e o mal estavam ali, posso afirmar que o bem provoca uma paz divinal e que o mal provoca a dôr angustiante mais insuportável que a imaginação possa alguma vez idealizar.
Posso afirmar que negar a existência de Deus é a tolice mais insolente que o homem pode inventar!

sexta-feira, abril 04, 2008

olhos nos olhos - parte 2


A cama dum hospital é companhia sofredora.
Durante todos estes anos de vida, tive a sorte de não conhecer a solidão amarga dessa companhia.
E quando aconteceu aquele dia de Novembro, antevéspera do ano 2000, também essa amargura não se manifestava muito relevante, pois a intervenção a que iria ser sujeito no Hospital da CUF era quase de rotina, sem qualquer risco e de curta duração.
A normalidade daquele dia denunciava, também, uma calma de espírito perfeitamente adequada ás circunstâncias.

Naquele quarto do hospital quase nunca estive sozinho. Entrei já à tardinha, a noite a espreitar, e sem novidades porque era já a segunda vez naquele ano de 1998.
O quarto era muito bom e não fossem os objectos e o branco vestuário do pessoal, e quase me esquecia de estar ali internado para uma intervenção cirúrgica.
Mas o silêncio "fala" sempre para dentro de nós. Em todas as circunstâncias e em todos os momentos o silêncio tem sempre um significado próprio, e "remexe" o nosso subconsciente à procura das mais diversas velharias. Basta que o sintamos e aceitemos. O silêncio é bom e também é "mau". Depende de como destapamos esse nosso subconsciente e o deixamos espraiar nesse mesmo silêncio.
Quando, por fim, adormeci, devo "ter andado" por sítios calmos e belos, porque a manhã encontrou-me bem disposto e preparado para um dia onde muita coisa iria acontecer...

Já tinha feito todos os exames necessários à operação, como é usual naqueles casos. Mas naquela tarde o médico avisara que me queria observar nas urgências, onde estava de serviço.
Fui levado ao rés-do-chão.
Deitei-me na marquesa e ele disse-me: "Vou tentar resolver isto com uma pequena cirurgia, pra ver se evitamos a operação!"
A enfermeira preparou a anestesia indicada pelo médico e ministrou-ma no rabo.
Após alguns instantes, voltou a verificar que as partes continuavam sensíveis, sinal de que a anestesia não produzira o efeito desejado. Deu nova ordem e outra seringa foi preparada e injectada no corpo. Fui respondendo às perguntas e confirmei que não sentia já aquela parte do corpo. Médico e enfermeiras trabalharam durante não sei quantos minutos, sempre em conversa permanente, até que, afastando-se, ele avisou, descalçando as luvas de borracha:
"Não! Não é possível! Temos mesmo que operar!..."
Eu fiz um gesto de desagrado mas de rápida resignação. Continuei estendido de barriga para cima, enquanto a enfermeira retirava toda aquela aparelhagem.

Poucos segundos haviam decorrido. Senti uma espécie de tontura (que já conhecera em outras alturas e indiciava um desmaio) e disse para a enfermeira: "Não estou a sentir-me bem. Tenho a impressão que vou desmaiar!..."
A enfermeira olhou-me, algo assustada, disse qualquer coisa relacionada com a tensão arterial, apareceu com o aparelho, apertou-me o braço, mediu a tensão, disse mais qualquer coisa e chamou o médico em voz alta...
A realidade do mundo à minha volta desapareceu num ápice, algo escuro apoderou-se do meu consciente, e um remoinho desagradável e áspero subiu-me ao cérebro. O pensamento deixou de funcionar, os cinco sentidos foram-se totalmente, o meu “eu” deixou de estar ali.

Recordando, agora, os factos de então, poderei afirmar que "parti" para outro lugar, onde não havia enfermeiras, nem médico, nem hospital. Era um lugar escuro, sem contornos nem paisagens à vista.
E porque isto está fresco na minha memória, tentarei defini-lo com mais duas ou três frases.
Poderei afirmar que não era um lugar deste mundo, e disso eu tive a percepção imediata. Poderei afirmar que, racionalmente, terei de compará-lo com uma arena, em que essa arena era "eu mesmo". Ou talvez um palco, pronto a acolher as cenas de uma peça. Sim, talvez esta comparação esteja mais próxima da realidade física. Mas não havia espectadores, nem luzes, nem cadeiras, nem um juiz, nem testemunhas. Não havia nada, de físico e concreto.
Afinal, como devo definir o que se passou? Para onde fui eu? Que lugar era aquele?
É difícil explicar aquele espaço com palavras inventadas pelo homem, assim como é difícil explicar todos os acontecimentos posteriores com palavras, sentimentos e emoções, tais como os conhecemos. Poderei afirmar, somente, que eu estava num lugar e a viver "coisas" que não faziam parte deste mundo, e não existem nem palavras nem sentimentos que possam explicar, com exactidão, aquilo que iria passar-se longe dum médico, de três enfermeiras e de quatro ou cinco familiares que esperavam no corredor vizinho.



quinta-feira, abril 03, 2008

olhos nos olhos - parte 1


Desde que comecei este blogue, há mais de três anos, eu "sabia" que este momento havia de chegar. Sabia, no íntimo, que este segredo, esta experiência que um dia vivi teria de ser aqui contada em todos os seus pormenores, por três razões muito especiais: primeiro, porque havia "prometido" contá-la na Net, depois, porque era um testemunho que poderia ter alguma utilidade para quem o lesse, e, por último, porque na blogosfera encontraria pessoas que poderiam ajudar-me com as suas ideias e opiniões.

Acredito na Vida. Acredito em Deus, não no Deus julgador e tirânico da Bíblia ou do Alcorão, mas no Deus do meu entendimento, no Deus que me envolve, que fala comigo, que me estende aos pés as maravilhas dum mundo perfeito, não fosse o comportamento humano tê-lo degradado ao longo dos séculos.

Hoje, com todas as minhas fraquezas humanas, com alegrias e tristezas a colorirem o meu percurso, com muitos desígnios alcançados na força e persistência - hoje, não serei uma pessoa que tenha conseguido, nesta altura da vida, o estatuto da felicidade plena. Sentimentalmente, busquei e persegui o "amor perfeito", largando haveres e conforto, "enfrentando" os familiares mais próximos, sempre acreditando na escolha que fizera.
Hoje, sinto que atinjo um marco na minha vida e algo fica terminado, tal quando completamos um quadro ou acabamos o último pedaço dum trabalho de tapeçaria ou ainda quando colocamos a última peça do puzzle.

Hoje, acredito no Deus do meu entendimento, tal como nunca havia acontecido. NEle encontro o Amigo, nEle posso entregar a minha aflicção, nEle deposito a minha confiança quando esta vida terrena já não tiver qualquer utilidade para a minha alma.
Posso dizer que "conheci" a felicidade, porque vivi momentos dos mais felizes, dos mais doces e cheios. Posso não ser, hoje, o homem mais feliz do mundo, mas Deus deu-me a conhecer aquilo que é a felicidade. Essa experiência ímpar de paz interior, de alegria que conduz ao êxtase, de amor belo, terno, cândido e carinhoso - tudo isso eu tive, e ainda, terei o previlégio de experimentar e vou levar no meu bornal para outros níveis da existência.



quarta-feira, abril 02, 2008

antes porém

Abril do norte, morno e brando. No sul, o Verão chega cedo, agarrado de turistas. Aqui, o vento sopra tão ligeiro que o tocamos num abraço inventado. O mar repousa em ondas serenas, sem tempo, sem limites, sem barreiras. Vindas do sul, respiram pegadas que se apagam lentamente. Pegadas de alguém, rumores, ecos vazios, conjugados num todo onde se partilha aquilo que foi criado, que se cria ou alguma vez se possa criar.
Quando o acto de pensar aflui até nós, julgamos chegado o momento de sabermos quem somos. A nossa mente, cheia de memórias, sensações e um número interminável de emoções, capaz de voar através do espaço e do tempo, sente-se única na interpretação que faz do mundo que nos rodeia. Por mera ilusão, afirma a nossa individualidade, embora, verdadeiramente, sejamos prisioneiros do pensamento colectivo que concebeu as ideias acumuladas durante milhões de anos.
Olhar para trás traz sensações agradáveis, mesmo as mais sombrias que balizam agora, como padrões, novas intenções e novos pensamentos.

O passo seguinte estava traçado!
Há muito tempo, desde o início desta viagem, um testemunho verdadeiro sentar-nos-ia à mesa, OLHOS NOS OLHOS, e partilharia um abraço final.
Com esperança, com fé, com uma certa alegria de estar!
O Sol vai lá estar em cima todos os dias, enquanto o mundo interior de cada um de nós se mantiver a este nível consciente de evolução.
Unidos Naquilo Que Verdadeiramente Somos, nunca estaremos perdidos.
Consciente ou inconscientemente, preparamos, em cada dia, um repasto que alimentará o sorriso colectivo dum universo que é o nosso lar.

Neste momento, sabemos muito pouco. Mas já sabemos mais do que ontem, porque estamos a crescer em consciência com uma rapidez que nos surpreende, e vamos lembrando, progressivamente, Aquilo que, ao nascermos para este mundo, combinámos esquecer.
Acordamos, sempre, com um desejo especial. O de vivenciarmos, saudavelmente, a nossa Alegria de Sermos.
Que este desejo possa ser entendido por toda a gente, hoje, sempre e em todos os lugares!