Sexta-feira, último dia da semana, fim de tarde, céu nublado, chuviscando a miúde. Subo o último quarteirão da Gomes Pereira e aproveito para comprar meia dúzia de coisas no Mini-Preço. O largo passeio fronteiro daquela avenida costuma estar repleta de carros estacionados. Mas, naquela altura, havia bastante espaço vago. Somente um carro alguns metros abaixo, o que não deixou de surpreender.
- Olha, tivemos sorte! Temos aqui lugar, disse a Alice.
- Pois, isto é estranho. Tanto espaço vago...
Mesmo assim, estacionei e dirigimo-nos ao estabelecimento, mesmo na porta em frente, do outro lado da rua.
À entrada, tive novo pressentimento.
- O melhor é ires tu, porque eu fico aqui à porta, de olho no carro. O que precisas é muita coisa, é pesado?...
- Umas coisas, umas bebidas, mas é rápido...
Hesitei de novo. Olhei para o carro, mesmo do outro lado da avenida, sozinho, quieto. Tudo calmo, tranquilo... Até parecia novo, lavadinho ontem, visto assim de trás...
O pressentimento afrouxou e puxei um carrinho das compras. Olhei outra vez a rua e depois para o interior da loja.
Em poucos minutos, encontrámos o que precisávamos, mas a minha preocupação estava lá fora. Num impulso, larguei o carrinho das compras, e quase corri até perto da saída. No passeio em frente, lá estava ele, o Hyundai, limpinho, luzidio, dono e senhor daquele bocadão de passeio, ali deixado livre para o dono ir fazer as suas comprinhas. Tudo continuava calmo, ninguém ao lado, muito menos algum polícia...
Voltei ao interior da loja, ainda procurei a marca do vinho habitual (não havia...) e, para não perdermos mais tempo, fui sozinho para a caixa. Duas pessoas à minha frente. A Alice ainda ficou a procurar não sei o quê.
Estava a colocar as últimas coisas nos sacos e vejo um polícia de trânsito a dirigir-se para o meu carrinho. Eh, pá! Mesmo a tempo! Largo tudo e aí vou eu, quase chegando primeiro que ele.
- Oh, sr.agente, fui ali ao super rapidamente, mas já aqui estou; desculpe lá, eu tiro já o carro!
- É o senhor o dono? Mostre-me os seus documentos!
- Sim, senhor! - E tirei a documentação toda da carteira.
- Pois, sr. Amaral, sabe como é! Não sei se conhece as regras novas do pagamento. Tem que pagar o desbloqueamento em dinheiro (são 30 euros), e a multa do estacionamento pode pagar com o cartão multibanco (são outros 30).
Só então reparei no aparelhómetro amarelo que bloqueva a roda dianteira do lado esquerdo do meu rico carrinho! Ainda argumentei meia dúzia de frases nem sei pra quê, pois o fardado não dava qualquer indício de ir alterar alguma coisa daquilo que já tinha decidido, e, de pronto, fechei a boquinha. Acompanhei o mais-que-tudo ao outro lado da rua, onde verifiquei que o dito saira dum jipe policial e um companheiro seu esperava ao lado pelo desenrolar da situação.
A partir daí, puz a minha cara de "tá bem, faz bom proveito, e despacha lá isso!", paguei 30 euritos da minha carteirinha (ainda fiquei lá com 25...) e para o restante, exibi o meu "cartão" que ficou com menos 30 euros, assim que lhe meti o código!
Quase nem dei pelo outro ir com uma chavinha e trazer de volta o aparelho que bloqueara durante minutos a rodinha do meu Hyundai, espetei duas rubricas nos papéis (o preenchimento da multa deu tempo de sobra para o pessoal da rua ir apreciando o "espectáculo", recolhi os documentos e ala! Não me apeteceu dizer "obrigado" nem "passem bem!" nem outra coisa... mas não foi por esquecimento. Foi porque não me apeteceu dizer nada... Guardei tudo no bolso e "pensas que vou chateado, mas olha que não pareço!..."
Trinta metros mais à frente, dobro a esquina à direita e...
... o passeio do lado direito estava pejado de carros em cima do passeio. Uma dezena ou mais! Tudo em fila indiana, sem um papelinho de multa, com as rodinhas intactas, sem um polícia à vista, nada! Num passeio que era metade daquele onde eu fora multado segundos antes... A uma centena de metros da esquadra da polícia (a mesma que me multou), em frente à entrada da estação dos combóios de Benfica! Toma!!!...
A Alice proferiu um palavrão(?), eu mantive a minha opinião.
O culpado tinha sido Eu! Simplesmente!
Porque por duas vezes, tinha tido aquele pressentimento. Primeiro: "Não deixes aí o carro!"... Segundo: "Fica aí à porta, não entres e fica de olho no carro!"
Não dei ouvidos à intuição! Fui "avisado" e, embora estivesse alerta, não segui o aviso!
Portanto, ponto final!
Mais um motivo para "ficar mais atento" no futuro!
Vejamos se, de uma vez por todas, deixo de ter destas "falhas"!...