Lisboa,

domingo, setembro 27, 2009

texto número mil

Este é texto nº. 1000 que este blogue está a publicar.
Quando em 2005 iniciei esta brincadeira, estava longe, muito, muito longe de imaginar que era possível eu publicar 1000 ideias neste "recanto" que ninguém conhece.
Excepto meia dúzia de pessoas que ousaram acreditar!
Lembro que (dantes) costumava ter aqui dezenas de comentários... mas chego à conclusão que as pessoas (quase todas) "vêm aqui" apenas quando eu "vou lá"...
Coisas de blogues!... Nada que não se compreenda!!!...
Olho para "isto" e sinto que deixei "aqui" um bocado de mim.
Um bocado apenas pessoal, insignificante, muitas e muitas vezes "saído" dum interior muito meu, cheio de dúvidas, de imperfeições, de quase banalidades...
Quando, por vezes, releio algo afastado no tempo, fico olhando as palavras como se elas me quisessem falar.
Sinto-as tremer no écran, como se reclamassem pular ou desfazer-se em pontos invisíveis.
Não sei por quanto tempo este milhar de textos vai permanecer neste lugar nem quem poderá vir a lê-los num dia longínquo.
Também não será muito importante para mim, aconteça isso ou aconteça aquilo...
Porque noutra dimensão, noutras tarefas, eu andarei...



sexta-feira, setembro 25, 2009

amor demais


Trauteando as notas da pauta
fez o prazer um amor
com gemidos e fanfarra
saidos duma guitarra
expulsos por um tambor

No quarto quente e escuro
passeiam bandos de sons
fervem o ar de loucura
em soluços de ternura
matizados por mil tons

Bradam os anjos da terra
gemem corpos com fervor
peles que tocam tremendo
suor que salta escorrendo
em rios sedentos do amor

Oh, louca e doce emoção
oh, que eterno vendaval
há chispas cruzando os ares
ondas gigantes nos mares
numa tela de Chagall

Já dizia Gedeão
que a paixão se incendeia
esta paixão cospe fogo
mais até que um longo jogo
jogado à luz da candeia

Calados enfim os silêncios
domadas ondas do mar
já só se ouve um chilreio
com uma vozinha no meio
num cântico de embalar

(Amaral Nascimento)

quarta-feira, setembro 23, 2009

corpo e beleza


Ainda acontece que o amor deva ser manifestado às escuras. Afinal de contas, o que é que faz envergonhar tanto, principalmente a mulher, ao ponto de ser necessário deixar o sítio às escuras?...
Não tenho dúvidas que as razões vêm de trás. Vêm daquilo que os nossos antepassados nos meteram na cabeça, vêm daquilo que a igreja nos impinge e sempre impingiu, vêm (ainda) das mentalidades de professores e governantes.
A igreja proclama que o sexo é coisa terrena e não espiritual e considera actos pecaminosos as práticas nudistas, filmes e revistas eróticas. O nu foi sempre combatido como algo imoral, ofensa a Deus, desvio dos bons costumes.
Os nossos avós trouxeram essas convicções implantadas na cabeça, os avós dos nossos avós também, e as gerações presentes deambulam entre o que fazer e o que não fazer!...
O corpo humano é uma das preciosidades mais bem concebidas do universo (pena que o homem a tenha deteriorado ao longo dos tempos…), criado para durar o tempo que a alma entendesse (o que quer dizer que, no acto da criação, seria perfeito). A nudez não pode, de forma alguma, ser chamada de "falta de pudor".
O sexo , com a sua beleza, o seu encanto, a sua alegria, foi uma dádiva divina, que servia não só a procriação, mas também a partilha da celebração da vida. Como dizia Thomas Moore "O sexo é obviamente físico e, talvez, de uma forma menos óbvia, espiritual".

segunda-feira, setembro 21, 2009

reciprocidade


A reciprocidade do prazer tem uma teoria?
Não será o prazer recíproco a todos os níveis, quando ele é genuíno?
É certo que nem sempre a reciprocidade se manifesta. Tomando como certa a ideia de que nada existe no mundo "sem vida", o prazer que me dá a contemplação de determinado ponto da natureza (ou um quadro ou um monumento de arquitectura) proporciona, certamente, uma reciprocidade natural.
Ainda que a outro nível, ela existe e acentua-se...
Por isso, a partilha tem o condão de influenciar extraordinariamente o nosso estado de espírito e contribuir para uma sensação de bem-estar, vinda lá do fundo do coração...


(imagem:"Â Plaisir d’Amour (after Couture) from 'Helen’s Odyssey'")

sábado, setembro 19, 2009

a vírgula pra descontrair


A Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode fazer sumir o seu dinheiro.
23,40 €
2,34 €

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.


A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.


A vírgula pode condenar ou salvar.
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo...


Onde é que você metia a virgula na seguinte frase...????

"Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de gatas à sua procura."


Muito simples:
Se você for mulher, certamente coloca a vírgula depois da palavra "mulher". Assim:
"Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de gatas à sua procura."

Se você for homem, coloca a vírgula depois da palavra "tem". Assim:
"Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de gatas à sua procura."

quinta-feira, setembro 17, 2009

luz da sombra

Se não sou o que estou a ser
nem vivo o que estou vivendo
tenho medo de ter medo
calo fundo este segredo
de ver errado o que estou vendo

Se me quisesses como eu quero
e me amasses como eu amo
faria o longe estar mais perto
mil oásis num deserto
mil ramagens num só ramo

Saudades de ter saudade
um querer de querer alguém
ao sonhar o nosso sonho
ri do teu rosto risonho
tive o céu que a lua tem

Já m'importa o que não sinto
já só sinto o não sentir
viro louco de loucura
terno no seio da ternura
flor do teu corpo a florir

A sombra já se fez luz
a luz da sombra luziu
caíu do alto dos céus
a chegada dum adeus
num olhar que a sombra viu

(Amaral Nascimento)

terça-feira, setembro 15, 2009

o primeiro amor


Questão curiosa nesta Filosofia, é qual será mais precioso e de maiores quilates: se o primeiro amor, ou o segundo?
Ao primeiro, ninguém pode negar que é o primogénito do coração, o morgado dos afectos, a flor do desejo, e as primícias da vontade. Contudo, eu reconheço grandes vantagens no amor segundo.
O primeiro é bisonho, o segundo é experimentado; o primeiro é aprendiz, o segundo é mestre: o primeiro pode ser ímpeto, o segundo não pode ser senão amor.
Enfim, o segundo amor, porque é segundo, é confirmação e ratificação do primeiro, e por isso não simples amor, senão duplicado, e amor sobre amor.
É verdade que o primeiro amor é o primogénito do coração; porém a vontade sempre livre não tem os seus bens vinculados.
Seja o primeiro, mas não por isso o maior.

(Padre António Vieira, in "Sermões")

domingo, setembro 13, 2009

ensina-me



Ensina-me a amar
ensina-me o que guardo em mim
aquilo que é o medo
as vergonhas que o vento traz
as palavras que se confundem
com o amor que a gente faz

Ensina-me o que é o A
tão diferente daquele C
ensina-me a desenhar
a dimensão do que é o amor
sem as amarras que conduzem
ao preconceito e à dor

Ensina-me a escrever
a falar e a descrever
aquilo que é paixão
o prazer que o corpo sente
a loucura que arde em chamas
em cada suspiro da mente

Ensina-me a dar
ensina-me a ser
ensina-me até a ânsia doer
e quando a dor subir aos céus
vou sentir que cheguei enfim
ao convívio do eterno Deus


(Amaral Nascimento)

sábado, setembro 12, 2009

cruz pesada

"Nem tudo o que parece é"...
Caminhamos estrada fora, com esta ou aquela cruz, subindo, descendo, tropeçando, por vezes...
Todos temos uma missão. Nem sempre o reconhecemos. Nem nos damos conta. Mas sempre, em cada período da vida, fazemos algo que é um impulso nascido do interior...
Um pequeno gesto pode esconder uma mensagem. Se nos apercebemos de tal coisa, não fiquemos indiferentes. Passemo-la. Um pouco de nós pode significar muito para alguém.
"O importante é passar a mensagem"...
Como dizia a Angel of Light "... é bom que se abra os olhos bem rápido"...
Naturalmente, as opções são SEMPRE de cada um.

sexta-feira, setembro 11, 2009

deixa acontecer

Se o teu caminho parece tristonho, sensaborão, fútil, sem chama, sem brilho, repetitivo e igual...
Deixa acontecer...
Se o teu caminho se assemelha a um trovão constante, a uma correria endiabrada, a uma luta diária, a uma batalha incompreendida, desigual e cheia de dúvidas...
Deixa acontecer...
Se o teu caminho é um mar de lágrimas, de desilusões, de pobreza material e cansaço, de injustiças e ruínas morais...
Deixa acontecer...
... mas lembra que podes alterar tudo isso, SEMPRE e logo que o decidires!

A Vida não se engana nunca, por mais detalhes que Ela contenha. O tapete é complexo mas cada pormenor é peça única dum puzzle que só assim estará completo. Tentemos entender que Tudo está no seu exacto lugar, a funcionar correctamente com um objectivo determinado.
Confiemos na Natureza, na Sabedoria das coisas que acontecem, na Perfeição dum universo vivo.

quarta-feira, setembro 09, 2009

quem sou


Queres saber quem Eu sou
vou-te dizer a cantar
vou-te dar umas palavras
daquelas que sempre gravas
pra mais tarde recordar

Eu sou um astro sou uma estrela
sou um peixinho do mar
estou na sombra atrás do monte
estou pr'além do horizonte
onde nem ousas sonhar

Quando olhas uma flor quando respiras e comes
quando a chuva te molhar
sou Eu que sou tudo isso
sou Eu que sou o feitiço
na Minha forma de estar

Fui gigante adamastor fui donzela e dom Quixote
fui Cristo vivo na cruz
Moisés e Buda também
tal como estive em Belém
estou e sou a tua luz

Muito mais posso dizer-te
mas pouco iria acrescentar
digo-te que és O que Eu sou
Filho que o Pai sempre amou
Vida que não vai findar

(Amaral Nascimento)

terça-feira, setembro 08, 2009

caroline


Um berço de água
uma gota qualquer
uma cascata de vida
um som de mulher
Um grão de leveza
um mundo a girar
um passo gigante
um sonho no ar
Lábios que cantam
água que grita
cabelos que gemem
um corpo que se agita
Uma dança serena
cristal que murmura
um poema que chora
o amor que perdura
Uma sereia nos braços
uma redoma de mel
a voz do seu peito
caroline lavelle

(Amaral Nascimento)

segunda-feira, setembro 07, 2009

por onde voas


Onde está esse teu sono
onde mora o teu sorriso
por onde voas
avezinha
que no sonho do pastor
apenas vejo uma ovelhinha

Sobre um manto fugidio
apenas a estrela reluz
onde mora
o teu olhar
que deixou nas suas asas
o sonho de poder voar

São as palavras que fogem
foge de mim a poesia
onde andas
sonho meu
que fico a velar teu sono
e não enxergo um olhar teu

(Amaral Nascimento)

sábado, setembro 05, 2009

minho verdejante

Estive no Minho o mês passado, contemplando e vivenciando aquelas doces paisagens de sonho...
É um previlégio ter ao nosso alcance tamanha grandiosidade e diversidade de sons, de verdes e azuis, de pessoas que sabem receber, de simpatia e generosidade, de tantas e tantas coisas diferentes e belas...

Braga

Bom Jesus

Gerês

Gerês-Portela do Homem

Vila do Gerês

Gerês

Gerês

Póvoa Lanhoso

Póvoa Lanhoso

Gerês

Soajo

Soajo

Arcos de Valdevez

Ponte de Lima

Ponte de Lima

Braga (à noite)

Guimarães

Guimarães

Valença Minho

Viana Castelo

Viana Castelo-Sta Luzia




quinta-feira, setembro 03, 2009

o amor sugado


O amor, enquanto afeição humana, é o amor que deseja o bem, possui uma disposição amigável, promove a felicidade dos demais e alegra-se com ela.
Mas é patente que aqueles que possuem uma inclinação meramente sexual não amam a pessoa por nenhum dos motivos ligados à verdadeira afeição e não se preocupam com a sua felicidade, mas podem até mesmo levá-la à maior infelicidade simplesmente visando satisfazer a sua própria inclinação e apetite.
O amor sexual faz da pessoa amada um objecto do apetite; tão logo foi possuída e o apetite saciado, ela é descartada «tal como um limão sugado».


(Emmanuel Kant, in 'Lições de Ética')

terça-feira, setembro 01, 2009

deixa-me sonhar



- Deixa-me sonhar hoje Contigo!
- Pois sonha, se é isso que queres!
- Mas como vou fazer isso? Nem sei como Tu és, nem saberia se era
Contigo, ou se era outro qualquer... Não sei como fazer...
- Deixa que isso aconteça!
- Deixo? Como assim? Sem pensar nada, sem imaginar uma maneira?...
- Deixa que isso aconteça, simplesmente!
- Como deixar?... As coisas não caem assim ... do céu!...
- Duvidas?...
- Quanta confusão, meu Deus!
- Quanta simplicidade, meu filho!